Global Journal of Human-Social Science, A: Arts and Humanities, Volume 21 Issue 12
entre duas rupturas do tempo como uma brecha (gap) entre o passado e o futuro, um “estranho entremeio no tempo histórico, onde se toma consciência de um intervalo no tempo inteiramente determinado por coisas que não são mais e por coisas que não são ainda.” 2 (Arendt, 2014, p. 66) Nas OT, este intervalo no tempo, esta ruptura que instalou uma fenda no tempo, dando início a um novo começo até chegar a um fim, vai ser escalonada de uma maneira precisa. Parte de uma acontecimento maior da política moderna, a Revolução Francesa e a fundação do Estado Nação Moderno, e, no outro extremo, o advento do III Reich e do Estalinismo. Nos dois acontecimentos nós tivemos duas fendas na ordem do tempo, e, perseguindo o regime de historicidade que adveio após esta última fenda no tempo, nós temos a dualidade da Guerra Fria cujo telos foi atingido com a Queda do Muro de Berlim. Isto é, seguindo a lógica conceitual e histórica das OT, após a Queda do Nazismo, o Comunismo continuou o evento central do “breve século XX”, pois a continuidade da URSS e do Imperialismo Soviético continuou até 1989, fim do regime deste regime de historicidade, para retomar o desdobramento do raciocínio de Hartog, com o declínio da “sociedade de trabalhadores, agora combinando Hannah Arendt com Robert Kurz. ” 3 2 Este intervalo do tempo entre coisas que “não são mais” e “coisas que não são ainda” é discutido por Arendt em La vie de l’esprit. La pensée. Le vouloir, Paris, PUF, 2013, pp. 259-272. 3 A referência aos regimes de historicidade se encontra em François Hartog, Regimes de Historicidade, Presentismo e Experiência do Tempo, Belo Horizonte, Autêntica, 2013. Quanto a queda da URSS em 1989 como fim da utopia da sociedade de trabalho, em consonância com Arendt, ver. R. Kurtz, O Colapso da moderização, São Paulo, Paz e Terra, 1996. Mas voltando ao raciocínio acerca da antítese entre a Revolução Francesa e os Totalitarismos Imperialistas do século XX, entre esses dois extremos, nós temos nas OT um espaço histórico composto de diferentes extratos do tempo que o acontecimento revolucionário deu surgimento, espécie de coexistência na forma da contemporaneidade do não- contemporâneo. O livro começa tratando da emancipação dos Judeus a partir da Revolução Francesa em 1792, e o seu fim com a comparação histórico-política entre o III Reich e a URSS com a qual se encerra o capítulo IV do livro 3. Olhando para o conjunto, Arendt expõe diferentes extratos dos tempos modernos: capítulos sobre a história do judaísmo, caso Dreyfus na França, análises marxistas sobre o Imperialismo francês, inglês e continental, retomadas da psicologia do homem de massas, etc. Isto é, em princípio, nós não podemos alinhavar a obra entre um começo e um fim segundo uma continuidade homogênea. Por outro lado, indo além da poeira ideológica dos acontecimentos, uma perspectiva de “longa duração histórica” pode ser situada entre a Revolução e os Totalitarismos do século XX. Ou seja, os fios da obra são reatados do início ao fim se nós considerarmos a influência desencadeada pela Revolução Francesa e as Conquistas Napoleônicas nas formações nacionais retardatárias por meio do estudo das ideologias políticas no quadro da inserção da formação nacional alemã, e também russa, no contexto europeu. Entre os dois acontecimentos que assinalam a marcação histórica e conceitual das OT, nós temos um interregno histórico que corresponde ao problema Nacional na esfera ideológica. Duas pontas deste processo histórico são postas: de um lado o conceito revolucionário de igualdade criado pela Revolução Francesa, e, de outro, os Imperialismos Continentais que desencadearam a Primeira Guerra Mundial. Fatores de longa duração históricos que se encontram associados aos desdobramentos da Era da Revolução Francesa na Europa. Arendt não menciona jamais a ideia de atraso histórico em Marx, isto é, o descompasso comparativo das Nações Continentais relativamente ao Estado Nacional na França após a Revolução, ponto que já retomaremos. Todavia, sua narrativa acerca da longa duração histórica das ideologias políticas de matriz racista dos Impérios Europeus que colapsaram com a Primeira Guerra Mundial, divisor de águas do regime de historicidade contemporâneo, introduz metodologicamente este ponto de vista, ponto de vista este que opera em diferentes regimes discursivos e ideológicos na obra. Se não estivermos equivocados, esta ênfase na análise do Totalitarismo a partir das Ideologias de “longa duração” dos Impérios Continentais Atrasados após a Revolução Francesa, coloca as OT na mesma perspectiva dos trabalhos de Gramsci sobre a “revolução passiva” e a “via prussiana” nas Nações que foram modernizadas pelo alto por meio da aliança entre os Intelectuais e o Estado diante de uma sociedade civil fraca. Ambos os autores põem ênfase no peso das sedimentações ideológicas do passado político europeu por meio de uma espécie de sociologia histórica e comparativa entre diferentes Nações, valorizando na esfera ideológica o meio de explicação das origens dos fascismos contemporâneos das Nações que sofreram o abalo da Revolução Francesa. Para o filósofo italiano, na “Alemanha, como a Itália, foi a sede de uma instituição e de uma ideologia universalista, supranacional (Sacro Império Romano da Nação Alemã), e forneceu uma certa quantidade de quadros à cosmópole medieval, depauperando as próprias energias internas e provocando lutas que desviavam dos problemas da organização nacional e mantinham a desagregação territorial da Idade Média. O desenvolvimento industrial ocorreu sob um Volume XXI Issue XII Version I 2 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2021 A © 2021 Global Journals Método e Questão Judaica em Hannah Arendt
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