Global Journal of Human-Social Science, A: Arts and Humanities, Volume 21 Issue 12
invólucro semifeudal, que durou até novembro de 1918, e os junker mantiveram uma supremacia político-intelectual bem maior do que a mantida pelo mesmo grupo inglês. Eles foram os intelectual tradicionais dos industriais alemães, mas com privilégios especiais e com uma forte consciência de ser um grupo social independente, baseada no fato de que detinham um notável poder econômico sobre a terra, mais ‘produtiva’ do que na Inglaterra. Os junkers prussianos asemelham-se a uma casta sacerdotal- militar, que possui um quase monopólio das funções diretivo-organizativas na sociedade política, mas que dispõe ao mesmo tempo de uma base econômica própria e não depende exclusivamente da liberalidade do grupo econômico dominante. Além disso, diferentemente dos nobres agrários ingleses, os junkers constituíram a oficialidade de um grande exército permanente, o que lhes fornecia sólidos quadros organizativos, favoráveis à conservação do espírito de grupo e do monopólio político.” (Gramsci, 2010, p. 29). Tanto quanto Arendt, Gramsci põe em evidência na Alemanha e na Itália (sede do papado, unificação tardia, desagregação territorial, etc) a existência de uma Ideologia Universal, espécie de sobrevivência política que ganhou novos esteios com as guerras napoleônicas e o fim do I Império após a Revolução Francesa. Para Gramsci foram os junkers que mantiveram a hegemonia político intelectual na Alemanha, intelectuais tradicionais dos Industriais Alemães após a Unificação, espécie de casta sacerdotal e militar que possui base econômica e que dispunha de funções diretivas na sociedade. Em Arendt, os contornos desta ideologia política são forjados com o fim do I Império durante as invasões napoleônicas, espécie de antítese da herança do Estado-Nação Moderno fundado pela Revolução Francesa. É no pangermanismo que nossa autora apreende a história dos fantasmas políticos alemães. Na “Alemanha, o pensamento racial se desenvolveu somente após a derrota do velho Exército Prussiano diante de Napoleão. Seu desenvolvimento decorreu dos patriotas prussianos e do romantismo político muito mais do que da Nobreza e de seus porta-vozes. Diferente do movimento racial francês que visava a desencadear a guerra civil e a fazer explodir a Nação, o pensamento racial alemão foi inventado por meio de um esforço para unir o povo contra toda dominação estrangeira. Seus autores não procuravam aliados além das fronteiras; eles queriam revelar no povo a consciência de uma origem comum. ” 4 Este pensamento racial nascido como Reação à Revolução após a Revolução Francesa depois da derrota do I Império Alemão, será reconsiderado dentro 4 A propósito dos nacionalistas conservadores na Alemanha, contrário ao espírito do humanismo clássico, ver Nobert Elias, The Germans – Power Struggles and the Development of Habitus in the Nineteenth and Twenthieth Centuries, New York, Colombia University Press, 1196, pp. 14-15 de um outro “regime de historicidade” nos capítulos seguintes das OT. Isto é, no registro histórico da reconstituição da ideologia dos Imperialismos Continentais no Pan-eslavismo e no Pan-germanismo nos quais nós podemos encontrar as origens tanto do Nazismo quanto do Estalinismo. Arendt encontrará após 1871, portanto, após o II Império Alemão, no pangermanismo e do pan-eslavismo as duas ideologias que deram origem aos movimentos de massa das nacionalidades que visavam sua integração nos Impérios Continentais em expansão. O que significa que, se considerarmos as OT sob esta perspectiva de conjunto nas quais as formações nacionais alemãs e russa vem à luz, é muito mais no conceito de Imperialismo enquanto nexo entre espaço geográfico e relações de poder que nós encontramos a chave explicativa de Arendt para o desenvolvimento histórico que gerou os Totalitarismos Contemporâneos. Certo, entre o Imperialismo e o Totalitarismo nós encontramos uma distinção terminológica, já que, por exemplo, o Imperialismo Clássico resultante da exportação de capital supérfluo e mão de obra supérflua não gerou um modo totalitário de governo nestes países. Todavia, sem o Pangermanismo e o Panesvalismo nós não podemos compreender o surgimento do III Reich e do Stalinismo. Tudo se passa como se após a decadência destes dois Impérios após a Primeira Guerra Mundial, a conjuntura social e política que deu nascimento a estas duas Ideologias reacionárias houvesse se reproduzido em toda a atmosfera do Entre-Guerras. Em resumo, considerado no seu conjunto, a estrutura comparativa França-Alemanha funciona como um contraponto que organiza não somente o conjunto da obra naquilo que concerne a gênese explicativa das origens do Totalitarismos, na medida em que inscreve a relação Alemanha e Rússia dentre de uma gênese histórica e ideológica particular enquanto duas Nações que sofreram o abalo da França Pós-Revolucionária, quanto nos permite contestar o método de homologias comparativas entre os dois regimes sob a pluma do conceito de “forma de governo”, como será o caso no capítulo IV do livro 3. (Arendt, 2002) Nesta ótica, os termos nos quais se põe a comparação entre o Nazismo e o Estalinismo a partir do conceito de forma de governo se modifica, como em I T 5 5 Nas palavras de Arendt, “a luta de raças pela dominação do mundo, a luta de classes pela tomada do poder político em diferentes países.” (Arendt, 2002, p. 298). . Raça e Classe não são mais as “Ideologias Totalitárias” que são colocadas em relação de correspondência, fundamento a partir do qual Arendt pôde comparar os conceitos de luta de classes e luta de raças quando apreende o Totalitarismo como forma de governo no capítulo IT (Arendt, 2002, p. 287). A “Ideologia Totalitária” se © 2021 Global Journals Volume XXI Issue XII Version I 3 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2021 A Método e Questão Judaica em Hannah Arendt
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