Global Journal of Human-Social Science, A: Arts and Humanities, Volume 21 Issue 12
chama Racismo: “Bem mais que o pensamento de classe, é o pensamento racial que não cessou de planar como uma sombra embaixo do desenvolvimento do concerto das nações europeias, para se tornar finalmente a arma terrível de destruição das nações. Do ponto de vista histórico, os racistas detém um registro de patriotismo pior que aqueles que sustentam todas as outros ideologias em conjunto, e eles foram os únicos a negar incessantemente o grande princípio sobre o qual foram edificados as organizações nacionais dos povos: o princípio de igualdade e solidariedade de todos os povos, garantido pela ideia de humanidade.” (Arendt, 2002a, p. 80) Arendt reconstrói a ideologia da Raça com o objetivo de mostrar sua conjugação histórica ulterior com o Imperialismo Continental dos Estados Atrasados, e a “ideologia da luta de classes” mencionada no capítulo IV do livro 3 corresponde não a Marx, mas ao Pan- eslavismo, uma mudança de perspectiva evidente entre a gênese explicativa da obra e seu ulterior resumo explicativo sob a pluma do conceito de forma de governo. Por fim, esta inscrição das Ideologias Totalitárias nas Ideologias Racistas dos Estados Nações atrasados no contexto da França Pós- Revolucionári a 6 É o caso de verificarmos agora como esta perspectiva acerca dos fantasmas políticos alemães, para Marx, funciona na explicação de Arendt sobre a , do ponto de vista da reconstrução metodológica da obra, nos permite rearticular a história conceitual de Arendt com a tese acerca do anacronismo alemão do jovem Marx. O texto sobre o qual nós nos apoiamos é a Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel : “porque o statu quo alemão é o acabamento confessado do antigo regime, e o antigo regime é o defeito escondido do Estado moderno. O combate contra o presente político alemão, é o combate contra o passado dos povos modernos, e as reminiscências deste passado vêm sempre a atormentá-los. É instrutivo para eles de ver o antigo regime, que neles viveu sua tragédia, jogar sua comédia enquanto fantasma alemão.” (Marx, 2000, p. 10) 6 Ainda sobre esta antítese histórica entre Revolução e o surgimento de Ideologias Conservadoras, cf. Karl Mannheim, para quem “depois da Revolução Francesa se desenvolveu o que poderíamos chamar de uma tendência polarizante no pensamento”, um pensamento conservador tipicamente alemão, cujo apanágio foi “uma tendência de se ir aos extremos, levando os argumentos lógicos às suas últimas conclusões.” Em seguida Mannheim evoca o Romantismo como exemplo alemão típico desta tendência. A questão das ideologias totalitárias em Arendt como raciocínio lógico levado às últimas consequências, definida pela autora como princípio de ação dos regimes totalitários, também encontra aqui seu fundamento explicativo. Entre a ideologia como lógica da ação levada às suas últimas consequências e o surgimento do racismo nos Estados pós- revolucionários a linha é contínua. Cf. “O pensamento conservador”, In: K. MANNHEIM, SP, Ática, 1998, pp. 74-79. questão judaica na Alemanha no livro 1 das OT, exposição que farei tomando a discussão do jovem Marx sobre a questão judaica como referência explicativa. Os espectros alemães como reminiscências políticas do passado alemão tem uma função metodológica importante no modo como Arendt expõe a questão judaica no contexto pós-Revolucionário, em continuo diálogo, ao mesmo tempo, como a ênfase posta por Gramsci no Estado e nos intelectuais como agentes das superestruturas ideológicas das nações de formação tardia, como é o caso da Alemã. (Viana, 2002) Razão pela qual a reconstituição paciente do livro 1 acaba nos levando para o classicismo alemão como Era da Revolução Burguesa na Alemanha. Resumindo, esta ênfase metodológica posta na ideia de anacronismo alemão pela marcação comparativa das Nações atrasadas relativamente à Revolução Francesa, assim como o destaque para o âmbito ideológico na explicação do surgimento do Nacional-Socialismo e do Bolchevismo, acompanha o livro OT do início ao fim 7 II. A ntisemitismo C omo I deologia do A traso . Dados os limites desta exposição, vejamos apenas o livro 1 das OT. O ponto de partida de Arendt é a definição do anti-semitismo como ideologia política que se cristalizou após a fundação do II Reich e a virada intelectual e moral sucedida pela recusa da cultura humanista do classicismo alemão e o predomínio do militarismo prussian o 8 7 E. Renan, op. cit. pp. 180-181. 8 Para a questão do atraso e do antisemitismo, Arendt afirma que “Le fait de coupler des slogans tout à fait modernes avec des conditions extrêmement arriérés, ce qui à première vue apparaît absurde, perde de as signification si l’on fait abstraction pour un instant de l’outillage purement idéologique de ces mouvements et si l’on se représente que c’est avec les progroms russes des années 1880 qu’a commencé la nouvelle émigraion de masse des Juifs.” H. Arendt, Écrits Juifs, op. cit. p. 189. Em seguida, “Avec l’aide des États les plus avancés, les États arriérés transposèrent leur barbarie sous les formes les plus modernes et les plus fascistes.” Idem. p. 189. Para a virada cultura da fundação do II Reich, ver E. Renan, La Réforme intellectuelle et morale: “la període de sa domination militaire, marquée peut-être par un abaissement intellectuel et moral (...)” , Ed. Complexe, Paris, 1990, p. 181. . Olhando para o sumário do livro I, Arendt mobiliza a distinção entre emancipação política e emancipação social dos judeus, procurando compreender o anti-semitismo como ideologia política a partir da relação dos judeus com o Estado e a Sociedade, descrição história ao mesmo tempo política e social. A perspectiva não deixa de lembrar “Sobre a questão judaica” do jovem Marx, não somente pelo interesse no estudo da situação dos judeus no contexto do “atraso alemão”, nos seus aspectos políticos, sociais e culturais, mas também por Arendt discutir metodologicamente a questão judaica partindo da Revolução Francesa e da Declaração dos Direitos Volume XXI Issue XII Version I 4 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2021 A © 2021 Global Journals Método e Questão Judaica em Hannah Arendt
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