Global Journal of Human-Social Science, A: Arts and Humanities, Volume 21 Issue 12

média eram rejeitados ao mesmo tempo que o discurso dos reformadores. No contexto da Reação após o Congresso de Viena, a Santa Aliança tonifica a nobreza prussiana que passa a emplacar uma discriminação contra os Judeus, cujo apogeu será a introdução da distinção entre Judeus aceitos e aqueles que não o eram. O relevo cristão do Estado, analisa Arendt, associado ao Congresso de Viena que verteu à Prússia as províncias habitadas por massas judaicas de pobres, nunca conseguiu tratar com igualdade os judeus. Caridoso com os Judeus ricos, o Estado cristão podia discriminar socialmente a inteligência judaica e as massas judaicas. Isto é, seguindo o nexo histórico de Arendt, o anti-semitismo é essencialmente um fenômeno da aristocracia que se opôs à formação de um Estado Nação na Alemanha que pudesse tratar com igualdade os Judeus. Não é outra a referência de Arendt senão a de Friedrich Engels, que observou que “um dia que os protagonistas do anti-semitismo de sua época eram os aristocratas, a ralé pequeno-burguesa desencadeada jogando o papel do coração. Nós podemos dizer também, continua Arendt, que foi assim na Alemanha, com os cristão-sociais da Austria e os anti-dreyfus francês. Em cada caso, a aristocracia levava um luta desesperada e procurava a se aliar às forças conservadoras da Igreja: a Igreja católica na Austria e na França, a Igreja protestante na Alemanha, sob o pretexto de combater o liberalismo com as armas do cristinianismo.” (Arendt, 2002c, p. 76) O terreno da agitação dos discursos anti- semitas adquiriu status de ideologia política quando dos movimentos pangermanistas que mobilizaram a opinião pública contra o Império Austro-Húngaro, pois reinvindicavam a união da nacionalidade alemã sob base do extermínio dos judeus e dos eslavos. E uma nova marcação histórica é posta: não mais o Edito de 1812 no contexto da ocupação napoleônica, mas após a fundação do Reich Alemão e o krach financeiro de 1873, quando os slogans anti-semitas se tornaram moeda corrente nas regiões atrasadas, até se tornarem uma ideologia política de alcance universal quando a condição de miséria das províncias alemãs se expandiu às grandes cidades com a crise do entre-guerra s 14 . Os discursos anti-semitas proliferaram em condições de atraso radical, o que prova, agora seguindo o raciocínio sociológico de Nobert Elias, que os códigos dos príncipes e das classes aristocráticas que afirmavam a característica desigual se sobrepuseram ao igualitarismo proveniente da Revolução Francesa . 15 14 No resumo de Arendt: “Dans les années 1870, la question juive ne fait plus l’objet d’un débat, mais forme plutôt le point de cristallisation d’un mouvement politique dont le mot d’ordre est l’antisémitisme.” “L’Antisémitisme”, In Écrits Juifs , Paris, Fayard, 2002, p.165. 15 A análise de Elias encontras-se em “Digression on Nationalism”, In The Germans – Power Struggles and the Development of Habitus in the Nineteenth and Twentieth Centururies, op. cit, p. 155. V. B ildung J udaica e as D ificuldades da E mancipação S ocial Esta apreensão do anti-semitismo nas regiões atrasadas, mas no entanto iluminadas pelos reformadores que aspiravam a emancipação política dos judeus, tudo no espírito das Luzes e da educação do gênero humano, serve igualmente de baliza teórica à crítica de Arendt da emancipação social dos judeus. Neste ponto, Arendt desenvolve o conceito de emancipação social com um vigor teórico que ultrapassa A Questão Judaica de Marx, mesmo que, insisto, os pressupostos de Marx sejam constantemente repostos pela autora, como a distinção entre Estado e sociedade civil, enfim, a discussão sobre a ausência de direitos humanos dos judeus na Alemanha . O cenário de Arendt para apreender esta descrição da situação social dos judeus é Berlim, capital de um Estado atrasado, onde os judeus gozavam dos direitos humanos, mesmo que ao preço de severas restrições às massas judaicas. Nathan, O sábio, de Lessing, torna-se emblemático a este respeito, pois proclama os direitos humanos para os judeus por meio da Revolução Francesa, verdadeiro libelo em favor da tolerância religiosa. (Arendt, p. 188, EJ) Do paradoxo da igualdade e do privilégio diante do Estado, isto é, do reconhecimento da igualdade diante da lei em um Estado separado da sociedade civil, e do privilégio ao capital financeiro que tornava possível a abstração Estado, Arendt vai questionar as insuficiências da emancipação social do judeus. A forma política é posta em questão pelo conteúdo social. O nó do argumento é que a assmilação do judeus à sociedade foi conferida aos judeus na qualidade de indivíduos excepcionais em relação as massas judaicas. O que significa que em face da igualdade econômica, política e jurídica dos judeus a sociedade reagiu sob base do fato de que a assimilação dos judeus, o reconhecimento da sua igualdade social somente fosse concedido a casos excepcionais. Estabelecer relações com a sociedade significava “ser e não ser-judeu”, isto é, renunciar uma religião discriminada socialmente, e se fazer aceitar na qualidade “excepcional” de um indivíduo extremamente educado, resultado que seria encarnado pelos intelectuais judeus. Um fenômeno de dupla consciência torna-se aqui manifesto, expressão da renúncia pública do judaísmo e sua exacerbação na esfera privada, expressão esta da própria cisão do homem na sociedade burguesa, entre indivíduo privado e cidadão. Nesta tessitura social os partidários da emancipação dos judeus consideravam que seria através da educação que os judeus seriam integrados na sociedade, raciocínio idêntico para os não-judeus. Se a emancipação dos judeus ocorreu através da emancipação política do Estado, traduzindo a emancipação política do Estado da religião, na © 2021 Global Journals Volume XXI Issue XII Version I 7 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2021 A Método e Questão Judaica em Hannah Arendt

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