Global Journal of Human-Social Science, A: Arts and Humanities, Volume 21 Issue 12

hegemonia cultural era o modelo da Bildung , contra- face de um Estado dominado pelo código dos príncipes. O retorno ao classicismo alemão como era da Revolução Burguesa na Alemanha, como já foi identificado na pluma de Lukacs e Benjamin, oferece a matéria através da qual Arendt pensa os dilemas da emancipação social pela Bildung nas condições de miséria nacional. Quanto ao salão como símbolo desta configuração cultural, ele chegará ao fim em Berlim com a 1ª Guerra Mundial, assinalando a decadência da época clássica do individualismo e do “ Bildungsbergertum ” e o nascimento de uma sociedade de massas. E chegado a este ponto do livro 1 das O T 20 , já se mostra necessário recompor a base material e política nas quais proliferou aquele anti-semitismo que se tornou ideologia corrente após o surgimento do II Império e a crise de 1873 nas regiões de atraso alemão. ( op. cit ) Isto é, sem a compreensão da conjunção do surgimento do anti-semitismo como ideologia política e o nascimento dos movimentos imperialistas que sacudiram o logo liquidado Império Austro-Húngaro, a explicação não seria completa, pois pretende, justamente, dar conta dos aspectos ideológicos e político desta mudança histórica. Desta tarefa se ocupará o livro Imperialismo, livro 2 das OT, desenvolvendo para a análise do imperialismo alemão o pangermanismo como ideologia política, movimentos ideológico que deu nascimento ao III Reich, e cuja origem remonta às guerras Napoleônicas. Arendt confere um peso às ideologias políticas na época pós- Revolucionária cujo paralelo com Gramsci acerca do Ressurgimento Italiano é notável, ( op. Cit ). Para o caso da “ideologia alemã”, este contorno político resulta da sobrevivência do Sacro Império Romano-Germânico, e sua reativação em condições modernas. Na pluma de Arendt, com o pangermanismo o patriota alemão reativa o sonho de domínio universal da Europa pela escravização das raças judias, espécie de ideologia do atraso em épocas de imperialismo. 21 acompanhada do imperativo da obediência, e, de outro lado, o desenvolvimento interior de uma personalidade cultivada, traço característico dos intelectuais, principalmente os judeus. Fórmula típica da ideologia alemã, como explica Dumont, relacionada com a reação alemã aos desenvolvimentos da Luzes. A Revolução foi aceita somente no espírito, como atesta o famoso opusculo de Kant sobre o Iluminismo. Cf. Homo aequalis, II, L’idéologia allemande – France- Allemagne et retour, Paris, Gallimard, 1991, pp. 36-37. 20 Deixarei de lado o capítulo consagrado ao caso Dreyfus, último do livro 1, visto que estou somente interessado em restituir o nexo histórico entre França e Alemanha na marcação conceitual e histórica do livro 1. 21 Na importante obra Écrits juifs, op. cit, Arendt considera os destinos dos judeus no mundo contemporâneo analisando o conflito árabe- israelense com o propósito de mostrar a reversão perversa dos judeus com os árabes sob a batuta sucessiva do Imperialismo inglês e americano com a fundação do Estado de Israel. Sua duríssima Mas aqui nós já adentramos na descrição do livro 2, cuja medula expositiva em torno da questão dos “fantasmas alemães” (Marx, 2002) fica para um próximo texto. O regime de historicidade recoberto pela análise de Arendt é o mesmo do livro 1, isto é, vai da Revolução Francesa até a 1º Guerra Mundial, sem deixar de passar pela referência de 1871 como data não somente do surgimento do anti-semitismo como ideologia política, mas também como base da superestrutura do anti-semitismo. A preocupação da autora será com o nexo da economia e da violência em escala mundial, fundamento material e político que serviu de base mundial para a proliferação dos discursos anti-semitas em escala mundial. Como vimos, o anti-semitismo como ideologia foi a sombra da modernização alemã, pois nasceu nas regiões da miséria alemã em resposta ao discurso da Revolução, até tornar-se moeda corrente quando esta condição se generalizou para o continente europeu. B ibliografia 1. ARANTES, Paulo. “ Uma irresistível vocação para cultivar a própria personalidade” (Parte I) , Trans/ Form/Ação, São Paulo, 26(1): 7-51, 2003. 2. ARENDT, H. Lesssystème totalitaire. Les Origines du Totalitarisme. Paris: Seuil, 2002. 3. ____________ . Ação e Busca da Felicidade Pública. RJ: Bazar do Tempo, 2019. 4. ____________ Sur l’antisémitisme, Les origines du Totalitarisme. Paris, Calmann-Lévy, 2002, 5. ____________ . L’Impérialisme. Les Origines du Totalitarisme. Paris: Fayard, 2002. 6. ____________. (Org.) Iluminations – Walter Benjamin. New York: Schocken Books, 1969. 7. ____________ Sobre a Revolução. São Paulo: Cia. das Letras, 2011. 8. ____________ Écrits juif. Paris: Fayard, 2011. crítica ao sionismo que comandou a fundação do Estado dos Judeus vai na direção de postular a existência de um Estado binacional cujo princípio federativo superaria o primado da violência que vai junto com a instituição de um Estado soberano. “O nacionalismo foi já muito nefasto quando ele fez exclusivamente confiança na força brutal da Nação. Mas um nacionalismo que dependente necessariamente, e de maneira confessa, da força de uma nação estrangeira é ainda pior. Tal é o destino que ameaça o nacionalismo judeu e o projeto de um Estado judeu que será inevitavelmente rodeado de Estados árabes e de povos árabes.” op. Cit., p. 511. Em E. Said, A questão da Palestina, São Paulo, Unesp, 2012, nós encontramos importantes esclarecimentos sobre o tema sob a ótica do desenvolvimento e do subdesenvolvimento. A Guerra desigual e combinada entre o Estado de Israel e a Palestina tornou a Faixa de Gaza a nova fronteira do apartheid colonial, desdobramento do apartheid da África do Sul na forma da opressão econômica e racial, e inclusive no que se refere a uma nova arquitetura colonial e o assalto permanente dos Campos de Assentados. Cf. A. Weyzmann, The Least of All Possible Evils: Humanitarian Violence from Arendt to Gaza , Verson, London, 2012. A. Mbembe, Necropolítica - Biopoder, soberania, Estado de exceção, política da morte , N-1 Ed, 2018, pp. 43-47. © 2021 Global Journals Volume XXI Issue XII Version I 9 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2021 A Método e Questão Judaica em Hannah Arendt

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