Global Journal of Human-Social Science, B: Geography, Environmental Science and Disaster Management, Volume 23 Issue 6
Para compreender a produção capitalista do espaço, o conceito de valor é fundamental. Em síntese, o valo r 8 é uma relação social. O dinheiro expressa de forma objetiva essa representação e o capital é valor em moviment o 9 . Marx fez três distinções interligadas 10 Como geógrafo, Harvey busca responder: “como o valor de uso, o valor de troca e o valor se integram um ao outro na produção e no uso da configuração espacial” (HARVEY, 2013, p. 479). Dessa forma, relaciona valor com o espaço e tempo relacional, valor de troca com o espaço-tempo relativo e valor de uso com o espaço e tempo absolutos. Para ele, a produção do espaço pelo capital resultou no desenvolvimento geográfico desigual. Sua explicação envolve compreender como a urbanização promove a , valor (imaterial e relacional, “tempo de trabalho socialmente necessário”) (MARX, 2013, p. 162), valor de uso (a utilidade que as coisas têm para as pessoas é subjetiva, pode ser representada em forma de qualidades e quantidades materiais e portanto, é heterogênea) e valor de troca (possui um teor quantitativo, homogêneo e objetivo). Segundo Marx, é “a proporção na qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo uma relação que se altera constantemente no tempo e no espaço” (MARX, 2013, p. 158). Na construção do valor das mercadorias, considera a influência das seguintes características, “grau médio de destreza dos trabalhadores, o grau de desenvolvimento da ciência e de sua aplicabilidade tecnológica, a organização social do processo de produção, o volume e a eficácia dos meios de produção e as condições naturais” (MARX, 2013, p. 163). Segundo Harvey, refletindo Marx, observa: A relação tensa e contraditória entre a produção e a sua realização se baseia no fato de que o valor depende da existência de vontades, necessidades e desejos apoiados pela capacidade de pagar por algo em uma população de consumidores. Tais vontades, necessidades e desejos estão profundamente enraizados no mundo da reprodução social. Sem eles, como Marx observa no primeiro capítulo de O capital, não há valor. (HARVEY, 2018b, p. 263). parte posta de lado depois que o capital constante (que inclui os meios de produção, matérias-primas e instrumentos de trabalho) e o capital variável (força de trabalho) foram computados. Sob condições capitalistas, a mais-valia é em parte realizada nas três formas, renda, juros, lucro”. (HARVEY, 1980, p. 192). 8 Para Marx, valor se apresenta como “o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de um valor de uso que determina a grandeza de seu valor (MARX, [1867], p. 162). 9 O leitor poderá encontrar um interessante debate sobre tal questão disponível em: < https://lavrapalavra.com/2019/02/18/o-erro-de-david -harvey-na-compreensao-da-lei-do-valor-em-marx/> Acesso em: 12 ago. 2019. 10 Ver HARVEY, 2013, p.32. produção do valor e desempenha um papel central para “moldar” nossas relações sociais e questiona: “essa dramática urbanização terá contribuído para o bem-estar humano? Transformou-nos em pessoas melhores ou deixou-nos a esmo em um mundo de anomia e alienação, raiva e frustação?” (HARVEY, 2014, p. 28). O geógrafo considera que aspectos éticos interessam na realização da análise e se propõe a buscar uma nova moral. Nessa questão é preciso ter em mente um princípio: o movimento sempre ocorre em algum lugar, ele não é aespacial. Com o capitalismo industrial, a busca pelo mercado mundial conferiu o caráter cosmopolita do capital, sendo necessária a ampliação do consumo (atualmente bastante diversificado, representado na profusão de objetos e desejos). A remoção de barreiras espaciais e temporais e o investimento em tecnologia, que aparecem como solução (revoluções nos transportes e na comunicação são exemplos disso). Da acumulação primitiva à busca por ultrapassar qualquer barreira para obter lucro, o capital criou um exército industrial de reserva, construiu cidades, criou uma nova estética, provocou a destruição criativa, explorou ambientes em busca de matéria prima e criou novos modos de vida. O Estado, nessa ótica, centraliza poder, é feição de uma classe, não é neutro e não representa o interesse de “todos”, mas deve regular conflitos, garantir segurança, promover educação, defender a propriedade privada etc. (HARVEY, 2006, 2011, 2013, 2016, 2018a). Este último é um tema caro para os marxistas, aliás, o caminho para o estabelecimento do direito à cidade sob uma perspectiva revolucionária passa por romper com esse modelo capitalista que dá primazia à propriedade privada. A reorientação dos desejos, vontades e necessidades podem lograr uma possível mudança. Esse foi um dos aspectos destacados pelo autor, ou seja, não é possível transformação social que visa a justiça sem ter uma transformação comportamental. Ao mesmo tempo observa-se que a mudança comportamental pouco pode fazer sozinha diante do sistema, das instituições, sendo, então, uma mudança dialética. Não há mudança comportamental sem mudança nas instituições. Quando há mudança de atitude (reorientação dos desejos) e esses não são mais os mesmos das instituições, elas ainda irão sobreviver à custa de pessoas que compactuam com tal estilo de vida, e para aqueles que obtiveram uma mudança comportamental, o uso de certas instâncias deixam de fazer sentido. Harvey (2016) faz outra observação a esse debate na conclusão do livro 17 contradições e o fim do capitalismo em: “Perspectivas de um futuro feliz, mas controverso: a promessa do humanismo revolucionário”. Naquele capítulo, o autor mostra como o exemplo de um humanismo caridoso, e por vezes © 2023 Global Journals Volume XXIII Issue VI Version I 5 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2023 B David Harvey’s Moral Geography Soja, “[...] Harvey pasó a uma conceptualización muy distinta de lo que él llamó el “processo urbano bajo el capitalismo” (2010, p. 131).
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