Global Journal of Human Social Science, C: Sociology and Culture, Volume 23 Issue 3
Além disso, como se depreende da fala acima, o futebol era um mecanismo que possibilitava a circulação dos habitantes em outros lugares e o contato com grupos diversificados. Tal dinâmica favorecia a constituição de sentimentos de pertença e orgulho do grupo e do lugar. Pois é... Eu ...essa...eu não sei te falar. Eu, eu não sei. Porque depois desses tempos que tô aí, aí tinha a festa da MORHAN 2 , você já ouviu falar na festa da MORHAN? Aí nessas épocas sim porque enchia muito, então vinha muita gente de fora, vinha. Agora aí já não sei se já vinha no interesse da festa ou o quê que era...justamente era sobre o preconceito, né ? Então mais vinha. Mas eu acredito que aqui do Centro de Betim vem, já vinha, eu acredito que sim, né ? (B) (Entrevista realizada em julho de 2019). Os relatos, ao colocarem em perspectiva o que existiu e agora se apresenta fixado nas lembranças do passado, demonstram como a memória, saturada pelo atributo ético, reflete-se sobre as condutas dos indivíduos e grupos sociais (SEIXAS, 2001). É e começou a parar de usar o de lá também. Não é um campo frequentado, assim, atualmente. E aí essa coisa do futebol ele foi se descaracterizando. Aqui no Citrolândia. Então assim, um investimento que na época, eu, o pessoal do esporte achou que fosse, uma coisa que tava fazendo muito bem e não funcionou. Raramente tem alguma coisa. [...] (L) (Entrevista realizada em junho de 2019). Para a entrevistada, o futebol no Citrolândia tinha um aspecto glorioso no passado e o seu predomínio entre as práticas que mais reuniam os habitantes podem ser explicadas pela falta de opções de lazer no território e pela articulação dos habitantes que realizavam os eventos. Hoje, como a maior parte desses habitantes já faleceu e as práticas de lazer passaram a ocorrer em espaços fechados, como os shoppings, por exemplo, os campos se encontram, na maior parte do tempo, sem uso. Era uma coisa! Eu não sei se a questão do acesso, é... era só isso e a gente tinha que fazer do futebol, a vida, de lazer, de... O que era possível. Então assim, é... eles tentaram por muito tempo! Eu lembro de algumas pessoas assim, é... essas pessoas também acabaram morrendo, a questão de idade mesmo, algumas doenças crônicas, mas assim as pessoas tentavam de todo jeito resgatar e aí eu lembro que começou a ter muita briga, confusão então as pessoas começaram, a realmente a... Dispersando. E aí eles conseguiram resgatar um pouco, como Segunda Sem Lei 3 . Que é um time, que eles juntaram, o restante, o restinho daqui, um restinho dali, e aí juntou uns poucos e foi lá. Eles fazem alguns eventos. É… Mas eles têm um dia específico, aí eles têm esse encontro lá, que eles usam esse campo. Mas fora isso eu não vejo assim mais...(L) (Entrevista realizada em junho de 2019). A entrevistada conclui que a passagem do tempo, unida às transformações que aconteceram em todos os âmbitos da vida na contemporaneidade, impactou nas relações ali construídas que deixaram de ter a rua como espaço central, rompendo aí com as práticas coletivas tão intensamente vivas na memória quanto significativas em suas trajetórias de vida. Fig. 3: Desfile dos times de futebol realizado na década de 80 do século XX. 2 Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase – MORHAN. 3 Segunda sem Lei é um evento que um grupo de habitantes mais antigos do Citrolândia organizam uma vez ao ano para ocuparem o espaço do campo de futebol conhecido como Bilezão. Além do futebol há atividades de lazer para as famílias com pula-pula e outros equipamentos. © 2023 Global Journals Volume XXIII Issue III Version I 5 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2023 C Leisure Practices in Segregated Spaces: The Case of Citrolândia
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