Global Journal of Human Social Science, D: History, Archaeology and Anthroplogy, Volume 23 Issue 2

seu conjunto, uma 'revolução conservadora' ” (PRADO JR, 1933, cap.III; 2009, p.62-63). No entanto, em seu livro de 1942 “Formação do Brasil contemporâneo” Prado Júnior procurava compreender as razões do atraso brasileiro, embora o caráter da Independência não seja explicitado, o autor pontua negativamente as heranças coloniais legadas ao Brasil dizendo que estas são desagregadoras, constituindo um empecilho ao pleno desenvolvimento nacional e que não foi removido no processo de Independência, mas que deveria ser descartada em algum momento do futuro (PRADO JR, 1942; PIMENTA, 2009, p.63) . As décadas de 1960 e 1970 com o contexto marcado pela realidade da ditadura militar iniciada em 1964, de acordo com Pimenta o exercício de voltar-se para o passado brasileiro com os olhos no presente impunha aos estudiosos o desafio de compreender e transformar a realidade tenebrosa, assolada pela contração das forças progressistas em geral (2009, p.63). Nessa lógica, o termo revolução “adquiria vários sentidos: de direita, de esquerda; de projeto a ser negado ou encampado; portador de uma utopia de futuro ou de uma frustração histórica; de legitimação do governo militar ou de oposição a ele” (PIMENTA, 2009, p.63). Assim, a principal novidade inaugurada nessa época pelos estudiosos é “a construção de um amplo consenso de que a Independência se inseriu em um panorama mundial de variadas e assimétricas transformações políticas que, juntas, formam uma unidade histórica”, ou seja, não foi um movimento isolado do resto do mundo (PIMENTA, 2009, p. 64-65; PIMENTA, 2020). Dentre as várias contribuições de vários autores e autoras das décadas de 1960 e 1970 é relevante destacar os estudos de Emília Viotti da Costa que foi fortemente influenciada por Caio Prado Júnior (PIMENTA, 2009, p.65). Conforme Ribeiro descreve Viotti da Costa resgata a participação dos escravizados e dos chamados homens livres “de cor” atribuindo-lhes uma face da revolução, mesmo que tivesse alguns posicionamentos relacionados aos autores da década de 1930 (RIBEIRO, 1997, p.21). Assim, para a autora “a independência foi uma ‘revolução’ com finalidades e perspectivas contraditórias”, isto é, para negros e mestiços a independência foi uma luta contra os brancos e seus privilégios, para os despossuídos foi uma subversão da ordem, quer dizer, uma promessa de eliminação das barreiras de cor e da possibilidade de se emanciparem, porém os estudos de Viotti da Costa não estavam preocupados na atuação popular especificamente (RIBEIRO, 1997, p.21-22). II. A s G uerras de I ndependência e a P articipação P opular Trataremos agora sobre as guerras de independência do Brasil e a participação popular analisando um caso específico: a independência da Bahia. Para muitos o processo de independência do Brasil ocorreu quando D. Pedro I, o príncipe regente, decidiu permanecer no Brasil, descumprindo assim as determinações impostas pelas Cortes de Lisboa (SILVA, 2017, p.63). Então, em 7 de setembro de 1822 se daria o famoso episódio no qual D. Pedro I declara a independência do Brasil às margens do rio Ipiranga devido às pressões das cortes de Lisboa em transportar forçosamente à família do príncipe regente para Portugal a fim de que jurassem a constituição portuguesa (SILVA, 2017, p.63). No entanto, é preciso desconstruir essa imagem tão comum de que o processo de independência nacional se deu de forma pacífica e sem resistência (PIMENTA, 2020). Nesse período, o Brasil era uma pluralidade de espaços não existindo um sentimento de nação brasileira ainda, este foi sendo construído ao longo do período imperial, posto isso o que existiam eram províncias e algumas delas não aderiram de imediato ao império do Brasil (PIMENTA, 2020; SILVA, 2017, p.61-62). Sob esse aspecto, houve guerras principalmente no norte do país e uma intensa participação da população em defesa de ideias como a liberdade e a autonomia, segundo Ribeiro, “imaginem o quanto de sonho despertava em escravos, livres pobres, libertos e imigrantes miseráveis a discussão da liberdade” (RIBEIRO, s.d., p.2 ; SILVA, 2017, p.61). Nessa perspectiva, começaremos pelo caso da Bahia. De início é preciso ressaltar que havia um certo interesse luso após a proclamação da emancipação em manter parte do seu território na província da Bahia, visto que era a localidade na qual grande parte dos navios e um agrupamento terrestre militar português estavam estacionadas (ORIÁ, 2015, p.7; SILVA, 2017, p.67). De acordo com Silva, D. João VI depois da independência pretendia de certo modo manter o eixo norte-nordeste brasileiro subordinado ao reino português e o sul-sudeste seriam parte do Império do Brasil, porém não foi isso que ocorreu pois tanto brasileiros quanto portugueses se envolveram em conflitos violentos para defenderem que queriam continuar a fazer parte do Brasil como se conhecia (2017, p.67). O conflito baiano começou na verdade em 18 de fevereiro de 1822 quando foi nomeado o brigadeiro português Inácio Madeira de Melo para o cargo de governador ao invés do brigadeiro brasileiro Manoel Pedro que era apoiado pela elite baiana e também pelas tropas (SILVA, 2017, p.67). Então, ocorreu um conflito armado por conta da recusa da substituição de Madeira de Melo, gerando revolta na população, Câmara e muitos militares baianos, porém foram derrotados depois de 3 dias de embates e foram obrigados a fugir (KRAAY, 2009; SILVA, 2017, p.67). Somente em 17 de junho D. Pedro depois de receber notícias sobre a situação caótica da província baiana Volume XXIII Issue II Version I 12 Global Journal of Human Social Science - Year 2023 © 2023 Global Journals Brazil's Independence and Popular Participation ( )D

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