Global Journal of Human Social Science, D: History, Archaeology and Anthroplogy, Volume 23 Issue 2
resolve intimar Madeiro de Melo a deixar o Brasil e pede que os baianos lutem contra as ordens impostas pelo brigadeiro português (SILVA, 2017, p.67-68). A partir daí, aconteceu uma articulação entre os grandes senhores de engenho do Recôncavo e constituiu-se o chamado Exército Pacificador o qual era composto “de soldados e milicianos que haviam deixado Salvador após a derrota, milicianos locais e batalhões provisórios organizados por baianos patriotas, que lutavam contra os portugueses, a favor da Independência” (KRAAY, 2009). Segundo Kraay, quando D. Pedro I foi declarado imperador Salvador ainda estava nas mãos dos portugueses, sendo assim o monarca declara apoio aos patriotas baianos chegando a enviar materiais bélicos, tropas e o oficial francês Pedro Labatut que era um militar com experiência nas guerras napoleônicas e hispano-americanas, além de mandar tropas das províncias de Pernambuco e Paraíba (2009). De acordo com Oriá, o conflito na Bahia durou cerca de um ano e cinco meses tendo mobilizado um grande número de pessoas inclusive de camadas populares e escravizados (2015, p.7; SILVA, 2017, p.68). Assim, pode-se dizer que a guerra teve duas fases:a primeira foi a do conflito conforme Silva aponta foi “caracterizada pelo uso da tática de guerrilha e conhecida como ‘Guerra Regional’, durou desde os embates em Cachoeira até outubro de 1822, sob o comando do tenente-coronel Joaquim Pires de Carvalho” (2017, p.68); e a segunda pode ser chamada de “Guerra Nacional” indo até os acontecimentos da substituição do general Labatut pelo coronel Joaquim José de Lima e Silva que ocorreu em maio de 1823 (SILVA, 2017, p.69-70). À princípio região de Pirajá foi transformada em um arraial o qual concentrava a principal parte da resistência baiana e reunia tropas de diversas regiões da província (SILVA, 2017, p.68). Os portugueses tinham como objetivo o cercamento de Salvador para impedir o recebimento de mantimentos dos rebeldes visando aumentar o controle sobre as regiões interioranas onde existiam "focos de resistência dos 'patriotas' como ficaram conhecidos os brasileiros" (SILVA, 2017, p.68). Como indica Silva “Pirajá estava começando a dar dor de cabeça aos portugueses”, diante disso no dia 14 de julho chegam os reforços provenientes do Rio de Janeiro: 200 soldados negros, os chamados libertos do imperador provenientes da corte, 700 soldados de Sergipe, Alagoas e Pernambuco, uma artilharia comandada pelo major José de Barros Falcão de Lacerda, 200 soldados da Paraíba e o general francês Pierre Labatut que ao longo da sua trajetória pelo Nordeste alcançou finalmente a Bahia obrigando o brigadeiro português Madeira de Melo a se render (2017, p.69). No entanto, Madeira de Melo não aceitou a ordem de rendição de Labatut e respondeu ao ataque invadindo Pirajá (SILVA, 2017, p.69). Apesar de o brigadeiro lusitano ter ordenado o ataque ao acampamento baiano em Pirajá os patriotas no dia 8 de novembro venceram a batalha, mas não sem dificuldades (KRAAY, 2009). Uma questão que foi considerada polêmica e causou desavenças na época foi quando Labatut propôs o recrutamento de escravizados para compor o exército Pacificador, prática inexistente nas tropas imperiais (KRAAY, 2009). Contudo, é necessário compreender primordialmente que esse recrutamento de escravizados “foi um esforço muito improvisado, que não ordenado nem regulado por decreto” (KRAAY, 2002, p.110-111). Obviamente, os senhores de engenho patriotas do Recôncavo não ficaram felizes com a proposta do general francês, porque temiam que seus cativos se aproveitassem da oportunidade para lutar por liberdade ou novos direitos (KRAAY, 2009). Todavia, Labatut após a batalha de Pirajá pede para recrutar “pardos e pretos forros” a fim de criar um batalhão de libertos (KRAAY, 2009). Ademais, Labatut recrutou e confiscou escravizados para o batalhão os quais pertenciam a senhores de engenho portugueses ausentes, ou seja, inimigos presumidamente, além de sugerir aos senhores que cedessem de maneira voluntária escravizados para ajudar na guerra (KRAAY, 2002, p.110-111; KRAAY, 2009). De acordo com Kraay, mesmo que Labatut solicitasse uma autorização formal para estabelecer o recrutamento, o Conselho Interino de Governo composto por poderosos senhores de engenho julgou a medida como perigosa e “queixou-se da criação de um 'batalhão de negros cativos, crioulos e africanos', preocupado com os boatos de que qualquer escravo que se oferecesse seria liberto” (KRAAY, 2002, p.110-111; KRAAY, 2009). Pouco tempo depois de ter feito tal sugestão Labatut seria forçado a abandonar o seu cargo - não só por questões ligadas ao recrutamento de cativos- por meio de um golpe pacífico e seria enviado ao Rio de Janeiro para ser julgado, é fundamental ressaltar que ele não prometeu aos escravizados a liberdade caso servissem no Exército Pacificador (KRAAY, 2002, p.110-111; KRAAY, 2009). Isto é, a promessa de liberdade estaria implícita na proposta do general ou então era uma conclusão a que chegavam os escravizados, pois estes sabiam que a condição de um soldado os quais eram sempre homens livres era diferente da condição de cativos, visto que os escravizados eram considerados propriedades dos senhores, quer dizer, o recrutamento de escravizados tocava num ponto sensível para os senhores: o direito à propriedade (KRAAY, 2002, p.111- 114; KRAAY, 2009). No período de dezembro de 1822 a julho de 1823, a Ilha de Itaparica foi atacada pelos lusos resistindo através do apoio popular com fortificações e trincheiras no entorno, por consequência ocorreram muitas baixas do lado inimigo, Labatut avançou com o Exército Pacificador pelo interior da província Volume XXIII Issue II Version I 13 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2023 D © 2023 Global Journals Brazil's Independence and Popular Participation
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