Global Journal of Human Social Science, D: History, Archaeology and Anthroplogy, Volume 23 Issue 2
expulsando os portugueses e promoveu um cerco terrestre em Salvador (SILVA, 2017, p.70). À medida que Madeira de Melo percebe que estava perdendo o controle da situação na província declara estado de sítio na capital (MORGADO, s.d., p. 73-6; SILVA, 2017, p.70). Com a destituição de Labatut, o brigadeiro José Joaquim de Lima e Silva assumiu o comando do Exército Pacificador (SILVA, 2017, p.70-71). Nesta fase, de acordo com Silva “a esquadra brasileira teve papel de destaque, com um cerco marítimo bem sucedido e a expulsão da frota portuguesa da costa baiana” (2017, p.70-71). Logo, no dia 20 de junho Madeira de Melo entrega Salvador, por conta das deliberações impostas pelo Conselho de Guerra, sofrendo com a falta de mantimentos e o ataque da esquadra de Cochrane, então no dia 2 de julho de 1823 o Exército pacificador entra na capital sob as ordens de Lima e Silva e tem-se fim a guerra na província baiana (SILVA, 2017, p.70-71). Após a guerra de independência na província baiana José Joaquim de Lima e Silva consoante com Kraay “recomendou ao governo imperial que se tratasse de libertar o 'grande número de cativos' que serviam nas forças baianas” (2009). Desse modo, no dia 30 de julho uma ordem do Rio de Janeiro chega a província: o governo baiano deveria cuidar da questão da liberdade dos escravizados-soldados, ou seja, os senhores de engenho deveriam libertar os cativos que tinham servido no Exército Pacificador e os que não o fizessem por vontade própria receberiam uma compensação pecuniária, mantendo-se dessa forma o direito à propriedade e o princípio importante de que a alforria era privilégio exclusivo do dono do escravo (KRAAY, 2002, p.111; KRAAY, 2009). Outrossim, uma outra determinação requisitou que os escravizados- soldados fossem enviados ao Rio de Janeiro, porque a presença deles na província ameaçava de maneira perigosa a ordem escravista que estava tentando ser imposta novamente (KRAAY, 2009). Ademais, os patriotas mobilizaram indígenas para à luta como demonstra Malerba no caso da arregimentação de populações indígenas nas proximidades de Salvador, o autor inclusive cita um exemplo dos chamados “caboclos” que era uma tribo nativa da região que tinha grande aversão a presença portuguesa (2006, p.320). Ao que tudo indica mulheres também participaram das guerras pela libertação da província baiana e elas não estavam alheias às questões políticas, por exemplo Kraay apontar que no ano de 1822 186 senhoras através de uma carta direcionada à Leopoldina declararam seu apoio à D. Pedro I (2015). Nessa perspectiva, focaremos em destacar as ações de 3 personagens femininas que participaram dos conflitos pela independência da Bahia: Joana Angélica, Maria Felipa e Maria Quitéria. Joana Angélica de Jesus foi uma religiosa nascida no ano de 1761 em Salvador (LOPES, SILVA, 2014, p.6; MARINHO, 2014, p.9). Desde nova Joana Angélica demonstrou grande interesse pela vida religiosa, entrando aos 20 anos para o Convento da Lapa e após um ano torna-se Irmã das Religiosas Reformadas de Nossa Senhora da Conceição (MARINHO, 2014, p.9). Dentro do Convento, atuou em variadas funções como por exemplo, escrivã (1797), vigária (1812-1814), abadessa (1815) e prelada (1819) (MARINHO, 2014, p.9). Na época das lutas pela emancipação da Bahia a religiosa ocupava o cargo de direção do Convento pela segunda vez quando os soldados portugueses no dia 19 de fevereiro invadiram o local, pois pensavam que as freiras estavam escondendo os patriotas e armas (LOPES, SILVA, 2014, p.6; MARINHO, 2014, p.9). Diante disso, Joana Angélica se pôs em frente a porta de entrada do claustro para tentar impedir que os lusos invadissem e atacassem o local, colocando-se como uma barreira (MARINHO, 2014, p.9). Assim, no dia 20 de fevereiro de 1822 Joana Angélica foi morta pelos soldados portugueses à baionetadas tornando-se posteriormente uma espécie de símbolo da crueldade lusitana no processo de independência baiano (KRAAY, 2015; LOPES, SILVA, 2014, p.6; MARINHO, 2014, p.9-10). Comumente descrita como uma mulher negra alta, corpulenta, corajosa e provavelmente descendente de escravizados sudaneses Maria Felipa participou das lutas pela emancipação baiana liderando a resistência popular aos portugueses na ilha de Itaparica (SANTOS, 2014, p.30; SANTOS, 2010, P.108). Apresentou-se em junho de 1822 como voluntária na batalha contra a presença lusitana, atuando como enfermeira e líder de um contingente expressivo de mulheres e homens de diferentes classes e etnias (SANTOS, 2014, p.30; SANTOS, 2010, p.109). Assim, Maria Felipa e seu grupo organizaram o envio de mantimentos para o Recôncavo baiano mas também muitas mulheres participaram da resistência insular como “vedetas”, melhor dizendo, vigias nas praias a fim de prevenir o desembarque de tropas inimigas (SANTOS, 2014, p.30; SANTOS, 2010, p.108). Sob esse aspecto, Maria Felipa e suas seguidoras ajudaram a incendiar diversas embarcações, contabilizam-se por volta de 42, alguns exemplos são a Canhoneira Dez de Fevereiro incendiada em 1º de outubro de 1822 na praia de Manguinhos e a Barca Constituição inflamada em 12 de outubro de 1822 na Praia do Convento (SANTOS, 2014, p.30; SANTOS, 2010, p.109). Em 7 de janeiro de 1823, Felipa e cerca de 40 mulheres negras e indígenas armadas com peixeiras e galhos de cansanção realizavam a defesa das praias atacando os portugueses os quais tentavam invadir as localidades, e posteriormente colocaram fogo nas embarcações utilizando tochas de palha de coco e chumbo (KRAAY, 2015; REZZUTTI, 2018, p.113; SANTOS, 2014, p.30; SANTOS, 2010, p.109). Entretanto, pouco se sabe ainda acerca da figura de Maria Felipa, posto que Volume XXIII Issue II Version I 14 Global Journal of Human Social Science - Year 2023 © 2023 Global Journals Brazil's Independence and Popular Participation ( )D
RkJQdWJsaXNoZXIy NTg4NDg=