Global Journal of Human Social Science, D: History, Archaeology and Anthroplogy, Volume 23 Issue 2
existem muitas dúvidas sobre a data de seu nascimento, se era escravizada liberta ou se já nasceu livre, porém esta última alternativa parece ser a mais provável segundo explica Santos “já que se ofereceu como voluntária para espionar as tropas portuguesas e pela sua liderança na resistência” (2010, p.109). De acordo com seu certificado de óbito Felipa morre em 1873 (SANTOS, 2010, p.109). Depois de passar mais de 180 anos esquecida pela história oficial da independência baiana, a trajetória e feitos de Maria Felipa estão sendo recuperados através de estudos sobre a tradição oral de Itaparica na qual a heroína negra da independência sempre permaneceu viva (KRAAY, 2015; SANTOS, 2010, p.108-109). De maneira elucidativa, Lucas Borges dos Santos expõe a importância do papel da heroína negra da independência para o processo de independência da Bahia o qual contou com uma participação popular intensa “Maria Felipa de Oliveira é uma representação de como a comunidade itaparicana encara sua participação na Guerra de Independência. Seu caráter popular e aguerrido, suas atividades laborais – marisqueiras, no comércio de baleias, ganhadeira – sua identidade étnico-social – negra e pobre – fazem dela uma Heroína que agrega em si as características de um grupo que teve uma participação significativa no processo de libertação da Bahia, mas que permanece, sob vários aspectos, ignorado”. (SANTOS, 2014, p.31) Por último, falaremos sobre Maria Quitéria uma personagem conhecida na atualidade pelo fato de ter se vestido de homem para lutar na guerra de independência baiana. Maria Quitéria de Jesus Medeiros nasceu em 1792 no sítio Licurizeiro em São José das Itapororocas, atual Cachoeira, na Bahia (SCHUMAHER, BRAZIL, 2000, p.472). Aos 9 anos sua mãe faleceu, tornando-se responsável por cuidar dos seus irmãos, foi criada pelo pai e aprendeu a montar, atirar e caçar, o que desagradou sua segunda madrasta que não considerava bom para a imagem de uma mulher na época ter tais habilidades (REZZUTTI, 2018, p.110). Então, no dia 6 de setembro de 1822 instalou-se na Vila de Cachoeira o Conselho Interino do Governo da Província com a finalidade de obter voluntários para lutarem no combate contra os portugueses, quando um desses emissários patriotas resolve visitar a fazenda do pai de Quitéria, Gonçalo Alves de Almeida, ele se recusa a contribuir com um dos seus 26 escravizados para a guerra (KRAAY, 2015; REZZUTTI, 2018, p.111). Desse modo, Quitéria solicitou ao pai que a deixasse participar do alistamento do exército, mas ele rapidamente respondeu que o papel das mulheres não era participar de guerras (FERRAZ, 1923, p.58; MOREIRA, 2014, p.34; PRADO, 2014, p.35; REZZUTTI, 2018, p.111). “É verdade, que não tendes filho, meu pai. Mas lembrai-vos que manejo as armas e que a caça não é mais nobre que a defesa da pátria. O coração me abrasa. Deixai-me ir disfarçada para tão justa guerra. Respondeu-lhe o pai: ‘Mulheres fiam, tecem e bordam; não vão à guerra’. (FERRAZ, 1923, p. 58) Com a resposta negativa do pai, Quitéria foge para a residência da irmã casada e com a ajuda dela corta o cabelo e se veste de homem utilizando o nome do cunhado para se apresentar como o soldado Medeiros em Cachoeira (KRAAY, 2015; PRADO, 2014, p.35; REZZUTTI, 2018, p.111). Primeiramente iniciou sua carreira na praça de artilharia, depois vai para a infantaria e no final de 1822 já fazia parte do batalhão dos “Voluntários do Príncipe D. Pedro”. (KRAAY, 2015; LOPES, SILVA, 2014, p.7). No entanto, logo foi descoberta no exército, porque assim que fugiu de casa seu pai começou a procurá-la, contudo ele não conseguiu fazer com que ela fosse expulsa ou saísse, pois Quitéria tinha treinamento e era muito útil (KRAAY 2015; LOPES, SILVA, 2014, p.7; REZZUTTI, 2018, p.111). Dessa forma, Quitéria combateu com o fardamento cheio de alguns toques femininos, consoante com vários documentos em 3 combates: na Bahia de Todos os Santos em Ilha de Maré, Barra do Paraguaçu e na cidade do Salvador na estrada da Pituba, Itapuã, e Conceição. Seu primeiro combate foi contra os lusos os quais tentaram atacar a esquadra brasileira, juntamente com o Batalhão dos Periquitos na estrada da Pituba em novembro de 1822 (MOREIRA, 2014, p.34). Posteriormente, entrou em combate em Itapuã em fevereiro de 1823 atacando e conseguindo vitória sobre uma trincheira de inimigos e conduziu prisioneiros ao acampamento, em abril de 1823 atuou na defesa de Foz do Paraguaçu com um grupo de mulheres guerreando contra uma embarcação portuguesa que queria atracar ali (MOREIRA, 2014, p.34-35). Em agosto de 1823 foi recebida por D. Pedro I e foi homenageada com a Ordem do Cruzeiro do Sul, tendo recebido também uma pensão vitalícia, na época Quitéria teria pedido ao Imperador para escrever ao seu pai solicitando que a perdoasse por tais feitos (KRAAY, 2015; PRADO, 2014, p.35; REZZUTTI, 2018, p.111). Sendo assim, é interessante ressaltar que se não fosse pela viajante inglesa Maria Graham não teríamos idéia do rosto de Maria Quitéria, visto que segundo Rezzutti “Graham recebeu um desenho de Maria Quitéria feito por um compatriota seu, Augustus Earle, que, de passagem pelo Brasil, a retratou”, quer dizer, em seguida Graham pede para imprimir a imagem da guerreira baiana em seu livro “Diário de uma viagem ao Brasil” o qual foi publicado em Londres em 1824 (REZZUTTI, 2018, p.111). III. C onclusão Portanto, faz-se necessário desconstruir a ideia de que a independência do Brasil foi pacífica e que ela foi feita somente pelo que é denominado “grandes Volume XXIII Issue II Version I 15 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2023 D © 2023 Global Journals Brazil's Independence and Popular Participation
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