Global Journal of Human Social Science, D: History, Archaeology and Anthroplogy, Volume 23 Issue 2
Volume XXIII Issue II Version I 21 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2023 D Morals and Violence: Principles for a Historical and Social Cartography of Values setembro de 1912, quarenta e sete anos antes de Hernani, Maria e Valdomiro ficarem marcados na história através de um processo criminal. Em 1959 muitas mudanças ocorreram no contexto histórico brasileiro e também em Mallet-PR. Com o fim da ditadura de Getúlio Vargas, o Brasil pode experimentar novamente a democracia. Isto ocorreu entre 1946 com a promulgação da Constituição Brasileira postergada desde a entrada de Vargas ao poder, até o fatídico golpe militar de 1º de abril de 1964 que colocaria o Brasil novamente nas “trevas” dos governos autoritários. Mallet, como demonstra o livro de Föetsch e Arkaten, Poder Legislativo Malletense (2012), sempre seguiu um caminho político favorável aos governos autoritários. Não é surpresa, nem exceção, os políticos de Mallet convergirem para esse viés. Isto diz muito sobre o contexto de Mallet e da construção identitária do povo Paranaense. Os historiadores Sochodolak e Martins problematizam a construção dessa narrativa identitária: [...] refere-se às subjetividades das pessoas que ocuparam a terra a partir de fins do século XIX, com sua religiosidade evidenciada pela construção de igrejas e sua disposição para o trabalho. Tais fatores seriam responsáveis pelo progresso do Sul do Estado e pela contribuição na diferenciação do Paraná com o restante do Brasil, um “Brasil diferente” nas palavras de Wilson Martins. (Sochodolak e Martins, 2014, p. 193). Essa construção identitária do povo paranaense é algo bastante complexo. Por vezes evidenciam o paranaense como trabalhador e acolhedor, ao mesmo tempo que escondem povos e etnias presentes ali como negros e indígenas. Se construiu uma identidade de um Paraná de brancos e imigrantes eslavos que desenvolveram e promoveram o progresso no estado. Discurso controverso se analisarmos historicamente a formação do estado, tendo influência significativa destes povos “excluídos”. Os estudos dos processos criminais de Mallet, é um dos processos de desconstrução dessa ideia demonstrando as controvérsias desse discurso. É neste contexto que foi fundado o Núcleo de Estudos de História da Violência - NUHVI, na Universidade Estadual do Centro-Oeste, do qual sou membro desde a formação do grupo. Esta breve contextualização sobre Mallet-PR, nos permite entendermos como era este município. Ao longo da segunda metade do século XX, sua expansão enfraqueceu e se estagnou. Entretanto, as relações sociais continuam marcadas pelo modo de vida rural. II. A M oral e a V iolência na C onstituição de uma C artografia do P oder Analisar o Processo Criminal n.º 08/1959, nos permitiu encontrarmos traços de um diagrama abstrato, a moral, composto por relações de poder bastante complexas presentes em nossa cartografia. Para tal, temos como diagrama, a definição do conceito por Gilles Deleuze: “O diagrama, ou a máquina abstrata, é o mapa das relações de forças, mapa de densidade de intensidade, que procede por ligações primárias não- localizáveis e que passa a cada instante por todos os pontos, ‘ou melhor, em toda relação de um ponto ao outro’. (Deleuze, 2013, p. 46)”. Ou seja, um diagrama permite a observação das relações de poder, como e por onde ele atravessa. Neste momento buscamos compreender como a moral pode ter pode ter exercido diferentes relações de poder na sociedade malletense. A moral parece transitar pelos agenciamentos concretos do poder, esses produzem discursos, suscitam e incitam sujeitos através das várias instituições como tribunais, escolas, prisões, igrejas, família, etc. Esses agenciamentos, produzem o que podemos entender como mecanismo de sustentação do poder, que captam e produzem sujeitos, são conexões não determinadas que podem ser rompidas ou desviadas sem deixar de exercer o poder. Para exemplo, as prisões observadas por Foucault (2013, p. 130) em Vigiar e Punir , que produziram várias relações de poder que precederam a instituição e foram além dela. Traz a luz e produz o sujeito delinquente, os carcereiros, mas também traz consigo os mecanismos de correção e punição que puderam ser difundidos de forma rizomática pela sociedade. Do contrário, esses mecanismos não surtiram efeitos se fossem exercidos apenas nas prisões. Se forma um diagrama complexo do poder disciplinar que vai atravessar toda a sociedade, dentro e fora das prisões. Ao observarmos a sociedade malletense, através dos processos criminais, é possível compreender como os sujeitos reafirmam a moralidade latente nesta região. Não criam e não questionam os valores que a moral incide, mas, reproduzem e são a todo momento atravessados por ela. Uma população que compartilhava mais do que a terra, mais do que o acesso à ferrovia e mais do que o comércio de produtos agrícolas. Para além da materialidade, essa população, como qualquer outra reunida socialmente, compartilhava seus valores morais, suas normatividades e seus consensos e acordos intrínsecos em seus modos de viver. Desta forma, buscamos compreender parte da formação dessas relações de poder que compõem um diagrama da moral, ou um poder moral. Este, parece atravessar as relações com o poder judiciário e a vida cotidiana, exercendo modos de viver que compõem uma normatividade. Estaria dentro do campo disciplinar também, mas, a moral parece possuir uma particularidade: as forças que a produzem e que a evocam não são necessariamente conscientes ou produtos institucionais. A moral atravessa sujeitos e instituições, conduzindo e produzindo tensões, e como
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