Global Journal of Human Social Science, D: History, Archaeology and Anthroplogy, Volume 23 Issue 2

Volume XXIII Issue II Version I 24 Global Journal of Human Social Science - Year 2023 © 2023 Global Journals Morals and Violence: Principles for a Historical and Social Cartography of Values moral no processo criminal 08/59 e como a sociedade agia frente a isto. Nietzsche, escreveu no século XIX que precisamos encontrar uma genealogia da moral, não sua origem ( Ursprung ), mas o momento e o motivo para que ela foi inventada ( Erfindung ). Ou seja, a moral não existe a priori, ela é uma invenção, e como toda invenção ela necessita de manutenção e correção de tempos em tempos. O filósofo irá aponta que que em certo momento houve a necessidade de viver em sociedade, e isso foi imposto autoritariamente a todos: Não temos direito de viver isolados. Não nos é permitido enganar-nos isoladamente, nem encontrar isoladamente a verdade. Ao contrário, assim como é necessário que uma árvore dê frutos, assim nós frutificamos ideias, apreciações: e nosso “sim” ou “não”, nosso, porém e ser desenvolvem- se, aparentados e relacionados, como testemunhas de uma vontade, de uma saúde, de uma terra, de um sol. (Nietzsche, 1887, p. 24). Assim, para que todo acordo de certo e errado, bem e mal, verdade e mentira seja definido é necessário que estejamos relacionados em sociedade. Um conjunto de valores se forma dando direções para toda forma de fazer da humanidade. De forma sistemática e pragmática, nos foi dado sentidos e direções de como viver, como se portar e se comportar. Assim inventamos a moral, como forma de sobreviver em sociedade, impor os limites e apontar direções. Da mesma forma aponta o filósofo Vázquez: A moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um contexto histórico e social, sejam acatadas livres e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal. (Vázquez, 1993, p. 69). A moral então ela se integra ao ser pela sua convicção íntima, que por sua vez está relacionado ao seu contexto histórico e social. Desta forma, a moral é internalizada nos sujeitos que a reproduzem sem a crítica aos próprios valores. Em contrapartida, o que Vázquez (1993, p. 69) diz sobre a moral não ser ressoada de forma mecânica, externa ou impessoal, não parece se adequar à nossa teoria. Uma vez que, pela moralidade se conjugam os papéis sociais a relação se torna uma névoa que circunda todos os sujeitos, até mesmo de forma inconsciente. Uma névoa porque a moral muitas vezes tende a ofuscar a visão sobre a vida e as ações. Os sujeitos são atravessados desde seu nascimento por uma moral da qual não tem entendimento, apenas aprenderá a reproduzi-la. O entendimento da moral pode ser traduzido como carácter contextual, ou seja, histórico, um processo em constante transformação que nem sempre é consciente para aqueles que já estão imersos. Vemos que a moral e a moralidade ganham uma função social, ou melhor, se torna um manual que cabe aos sujeitos compreendê-las e fazer bom ou mau uso dele, para satisfazer seus desejos, para sobreviver, para se esconder ou para se tornar visível. Observando nossas fontes, precisamos fazer a crítica do valor desses valores para aquela sociedade e assim compreender o contexto histórico que cerca os sujeitos. Necessitamos de uma “crítica” dos valores morais e antes de tudo discutir-se o “valor destes valores”, e por isso é toda a necessidade conhecer as condições e o meio ambiente em que nasceram, em que se desenvolveram e deformaram (a moral como consequência, como máscara, como enfermidade ou como equívoco, e também a moral como remédio, estimulante, freio ou veneno), um conhecimento de tal espécie nunca teve outro semelhante, nem é possível que não o tenha nunca desejado. (Nietzsche, 1887, p. 28). No caso analisado, vemos uma sociedade que partilha a mesma moralidade, em diferentes usos e diferentes medidas. Hernani , para justificar seu crime, veste sua "máscara moral” junto ao seu defensor para personificar um sujeito honrado. Este é o jogo dos valores, onde se atribui distinções entre o certo e errado, bem e mal e legítimo e ilegítimo, que muitas vezes se confundem e se transformam deixando de ser um simples dualismo. Os significados aqui se multiplicam e explodem em linhas de fuga, as relações de poder ramificam em vários agenciadores, se desmontam e remontam ao longo dos processos históricos. É compreendendo o valor destes valores que é possível identificar como o poder moral atravessa os sujeitos, a que desejos eles respondem, a anseios se conduzem, a que finalidade se propõe: Dava-se como existente o “valor destes valores” como um verdadeiro postulado; até agora nunca se duvidou nem se hesitou de atribuir um valor do “bem” superior ao “mal”, ao valor do progresso, da utilidade, inclusive o futuro do homem. E por quê? Não poderia ser verdade o contrário? (Nietzsche, 1887, p. 28). Observando no Processo 08/59, os testemunhos de quem teve contato com Hernani naquele dia, podemos extrair algumas percepções sobre o crime, a violência e sobre a ruptura moral. Todavia, essas rupturas violentas tomam diversos rumos, de reparação individual da honra e da moral, do processo para verificar a legitimidade da violência em sua justificativa, das medidas cabíveis para equilibrar a balança da justiça entre o que é crime contra a pessoa e o que é “danação” contra os valores instituídos. O primeiro testemunho, ainda em fase de inquérito policial, é de Miguel Litertovicz , o dono do bar onde Hernani assassinou Valdomiro. Questionado sobre o que havia acontecido, Miguel diz ter reagido tranquilamente por conhecer Hernani e havia perguntado por que ele havia esfaqueado Valdomiro. O réu respondeu a Miguel somente “[...] não é nada com ( )D

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