Global Journal of Human Social Science, D: History, Archaeology and Anthroplogy, Volume 23 Issue 2

Volume XXIII Issue II Version I 27 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2023 D © 2023 Global Journals Morals and Violence: Principles for a Historical and Social Cartography of Values honradas, quais foram suas atitudes que levaram o réu a sua manifestação colérica. Observamos o processo se transformar de um julgamento de homicídio para uma legítima defesa da honra. Quem legitimou essa ação foi a própria sociedade, que partilhava dos mesmos valores e que subentendia que ato violento foi resposta a ruptura dos valores que defendiam. Desta forma, podemos entender como as linhas que se estratificam na sociedade podem ser rompidas. Uma vez que a moral é colocada em cheque, iniciou-se um processo que redesenhou as fronteiras até mesmo da legalidade, para reajustar os valores e conter a manifestação colérica social. Ao mesmo tempo, esse rompimento moral é violento e produz relações diversas que vão transformar todo o mapa das relações de poder e tensões. Assim, nossa cartografia apresenta mais elementos para compreender a complexidade das relações de poder e moral em nossa sociedade. A cartografia passa a demonstrar a história em vários pontos, agregar e expor os saberes, suscitar e incitar os sujeitos, servindo também para observarmos nosso presente e seus estratos. Na história precisamos ser cautelosos com as possíveis armadilhas do anacronismo. Pensar o passado para tecer a crítica sobre o presente, não significa se deslocar de seu momento e estampar no agora, isto é decalque, que por sua vez é estático, imutável, diferente da cartografia que é fluida e múltipla podendo ser redesenhada à medida que novos elementos atravessam o objeto. Todo processo histórico é parte de um conjunto de vários fatores que atravessam o tempo. Analisar historicamente é também o exercício de escutarmos, observamos e sentimos aquilo que ainda ressoa e se apresenta em nossa realidade. Veyne (1998, p. 24-26) em seu livro, Como se escreve a história, vai ser bem assertivo ao afirmar que por mais que observemos outros lugares e outros momentos ainda aprendemos algo sobre nosso objeto. O historiador escreveu isto exemplificando que, mesmo aprendendo algo sobre a antiguidade oriental observando a China dinástica, ainda é possível apreender algo sobre Roma Antiga. Isto se dá, não porque outros lugares possuem uma ligação histórica comum. Mas porque, ao observarmos as relações exteriores à nossa realidade, salta aos olhos aquilo que poderia ser comum e banal em nossa história. Romper com essas paredes de nosso lugar social se faz necessário, para assim compreendermos a dimensão daquilo que ainda está presente na sociedade. Quando objetivamos analisar um processo criminal específico, tomamos como tarefa compor parte de uma problematização maior. Não era o foco deste artigo apresentar uma situação e lugar específico no espaço e tempo histórico. Apresentamos elementos que transitam, por vezes fluidos e por outras resistentes, pelo campo social, reformando, produzindo, transformando valores e significados dentro da sociedade. Não se trata aqui de observarmos apenas Mallet-PR no Brasil, mas também, produzir um certo caminho para observar várias realidades e dentro de cada contexto tecermos a crítica. O que observamos nesta pesquisa, ainda ressoa no contexto brasileiro. Ainda que a letra da lei tenha sido reinterpretada - característica marcante do Código Penal Brasileiro de 1940, sendo uma lei passível de interpretação e manipulação -, ressoa muito desses valores morais dentro do processo penal e subjugando sujeitos aos antigos valores de conduta e moral. O Brasil está longe de superar esses problemas, mas o silêncio perante eles somente atrasa ainda mais o processo de mudança. Precisamos nos incomodar e nos indignar com esses valores antiquados, pois eles são combustíveis para a violência, intolerância, desrespeito a dignidade humana. Se não bastasse, ainda são ferramentas para fortalecimento dos neofascismos e intolerância de grupos. Esses valores atravessam a sociedade e capturam os sujeitos. Nosso papel social implica em produzir resistências e desconstruir aquilo que insiste em assombrar o presente. B ibliografia 1. Corrêa, L. M. (2019). A atuação do holding Brazil Railway Company no Brasil (1904-1920). Tese de Doutorado em História. Brasil/Assis-SP: UNESP. 2. Dadoun, R. (1998). A violência: ensaio acerca do homo violens . Brasil/Rio de Janeiro: DIFEL. 3. Deleuze, G. (2013). Foucault. Brasil/São Paulo: Editora Brasiliense. 4. Deleuze, G. e Guattari, F. (2011). Mil Platôs. Vol 1. Brasil/São Paulo: Editora 34. 5. Dumas, A. (1996). Os Três Mosqueteiros. Brasil/São Paulo: Nova Cultural. 6. Elias, N. (2011). O Processo Civilizador. 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