Global Journal of Human Social Science, D: History, Archaeology and Anthroplogy, Volume 23 Issue 3
datas minerais e erguendo as primeiras cabanas do arraial que foi chamado de Mata Cavalos. Àquele rio tão dadivoso eles deram o nome de Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo e em uma de suas margens eles invocaram a proteção da Virgem, consagrando-lhe uma pequena e rústica capela do mesmo nome. Como era o costume, em torno dessa capela e seguindo o curso das águas os desbravadores foram erguendo as primeiras edificações e dando forma ao arraial. A notícia sobre a descoberta de ouro trouxe ao local muitos aventureiros, que passaram a experimentar técnicas de exploração mineral, não apenas no ribeirão e em suas margens, mas nas ribanceiras e em terra firme. No momento em que eles foram avançando para além do rio, mais edificações foram surgindo e o povoado foi se transferindo de Mata Cavalos para o entorno da capela de Conceição , erguida mais a leste das primeiras edificações . 4 Fonseca observou que nas regiões mineradoras as concessões de terrenos não se fizeram como em outras partes do Brasil, onde eram lavradas cartas de sesmarias. Nessas regiões os documentos estabelecendo as possessões só eram concedidos depois que as datas minerais e os primeiros acampamentos haviam sido instalados e eram redigidos observando um critério específico de medidas: “ao invés da “légua em quadra” do sistema sesmarial, a data de mineração era medida segundo uma unidade bem menor, a “braça em quadra”, e o número de datas a serem destinadas a cada concessionário dependia do número de escravos a serem empregados nos trabalhos”. 5 Esta forma de distribuição dos terrenos levou os mineiros, em geral proprietários de poucos escravos, a edificarem suas casas próximas umas das outras e aglomeradas em certo ponto do território. Outro fator determinante na formação dos núcleos urbanos estava relacionado às regulamentações e à ação do poder religioso. A constituição das capelas e de seu patrimônio era feita a partir da doação de uma porção de terra por parte de um dos concessionários. Essa porção deveria ter espaço suficiente para a construção do edifício da capela, para o delineamento de seu adro, para a realização das procissões, que passariam ao seu redor, e deveria incluir um terreno que pudesse ser aforado gerando renda. Estas recomendações, instituídas e retomadas pelas autoridades eclesiásticas, condicionaram de certa forma a constituição dos povoados, pois era em torno dessas pequenas igrejas e de suas propriedades que os habitantes construíam 4 Como pode ser observado nos mapas acima. A capela da Conceição foi construída no mesmo lugar onde hoje está a igreja Matriz . 5 FONSECA, 1998, p. 30. Segundo a autora, uma légua em quadra equivalia, aproximadamente, a 6.173 m e uma braça em quadra equivalia a 2,2 m. suas moradias, instalavam seus negócios e vendas e traçavam os principais caminhos e vias. Quando o arraial foi elevado à condição de vila de Nossa Senhora do Carmo, em 1711, novos edifícios precisaram ser feitos, substituindo alguns dos já existentes e conferindo à localidade um aspecto menos rústico e mais adequado à sede de um novo município. Seguindo as orientações do governo português, era necessário criar a casa da câmara, a cadeia e o pelourinho e reedificar a capela principal, que se tornaria a igreja Matriz. Ademais, era preciso delimitar a área do novo município e definir os terrenos públicos que serviriam ao uso comum dos habitantes e à expansão da vila. A partir daquele ano, portanto, a paisagem do arraial passou por modificações cada vez mais sistemáticas. O Largo da Matriz , por exemplo, recebeu uma estudada forma quadrangular e em seu centro foi assentado o pelourinho , símbolo do poder judicial e da autonomia municipal. Em suas imediações outros símbolos do poder civil foram instalados como a Casa da Câmara e Cadeia , a Casa da Intendência , a Casa dos Juízes de Fora , o Palácio dos Governadores , o Quartel dos Dragões e a Casa de Fundição . Seguindo o curso do rio e atravessando o córrego do Seminário foi erguida a capela de Santana e ao seu lado a Casa de Misericórdia ; instalada nesse local, possivelmente, em observância às teorias médicas da época que diziam que hospitais, cemitérios e matadouros deveriam manter certa distância das aglomerações urbanas. 6 Tais edifícios e edificações, realizadas nas proximidades da igreja Matriz , demarcaram aquele local como o centro da vila, deixando à revelia do tempo as casas que haviam sido erguidas décadas antes na parte mais antiga do povoado. Afora isto as inundações provocadas pelo Ribeirão Nossa Senhora do Carmo empurravam os moradores para mais perto dos novos edifícios, situados em terreno mais elevado em relação ao nível das águas. As cinco décadas de povoamento e a localização nesse sítio “mais cômodo”, tanto no que se refere à segurança dos prédios quanto à sutileza das ladeiras, levaram Dom João V a escolher a vila de Nossa Senhora do Carmo para ser a sede do bispado em Minas Gerais. A decisão do rei foi comunicada ao governador da capitania, Gomes Freire de Andrade, em abril de 1745. Este recebeu a notícia com espanto, porque, embora nos últimos anos uma vila tivesse sido ali levantada, o rio havia levado consigo uma parte dela e a própria catedral ameaçava ruir. 7 6 FONSECA, 1998, p. 33-39. 7 FONSECA, 1998, p. 40. A autora encontrou informações sobre uma grande inundação, ocorrida em 1743, que teria transformado a parte mais antiga da vila em praia e destruído as edificações da Rua do Piolho que ficava mais perto das margens do ribeirão. © 2023 Global Journals Volume XXIII Issue III Version I 39 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2023 D Mariana: The Construction of the City and its Paths
RkJQdWJsaXNoZXIy NTg4NDg=