Global Journal of Human Social Science, D: History, Archaeology and Anthroplogy, Volume 23 Issue 3

habitantes. Na segunda metade dos setecentos, portanto, a paisagem foi sendo transformada gradativamente e a decadente vila foi dando lugar a um conjunto planejado e refletido de ruas, calçadas, pontes, praças, chafarizes, prédios, casas e capelas. As principais ruas do centro histórico da cidade foram traçadas e definidas naqueles anos. Logo ao lado da igreja Matriz havia um caminho que ligava a parte nova da cidade à parte mais antiga; era o principal acesso à catedral e como mandava o costume ele deveria receber o nome de Rua Direita . 14 Seguindo até a ponte de Areia , esta rua se destacava por seus sobrados lineares e contíguos, com as portas, sacadas e telhados parecendo ser o resultado de um mesmo risco. Essa linearidade foi retratada por V. J. Martins Braga, em 1824, na Vista da cidade de Mariana . Fonte: J. V. Martins Braga, ilustração Vista da cidade de Mariana, 1824 (Arquivo da Casa Setecentista, Mariana, Minas Gerais, Brasil). Em sua ilustração o artista escolheu representar no meio da folha o centro do próprio povoado; neste ponto delineou a catedral e o casario a sua volta, mas o que chamou a atenção foi sua percepção dos sobrados que ficavam em um dos lados da Rua Direita . Com algumas pequenas exceções, ele os retratou como se fossem um mesmo edifício, colocando as portas e janelas na mesma altura e deixando de assinalar as paredes que separavam um sobrado do outro. Nesta parte mais nova da cidade concentrou- se o comércio e para ela se mudaram os moradores de mais posses . 14 Ali bem perto, no Largo da Matriz , reuniram-se, igualmente, estabelecimentos comerciais e foi instalado mais um dos vários chafarizes que passaram a compor a paisagem daquele núcleo urbano. Atravessando esse largo e seguindo pela rua ao lado da catedral, que era a Rua da Intendência , chegava-se a uma das praças projetadas por Fernandes Alpoim. Construída conforme a orientação do rei, essa “praça espaçosa ” 15 tornou-se um 14 FONSECA, 1998, p. 37. 15 FONSECA, 1998; LEWKOWICZ, 1998. 16 CARTA RÉGIA. Lisboa, setembro de 1847. importante espaço de sociabilidade e - até os dias de hoje - o principal ponto de encontro dos habitantes. Outro caminho que, do mesmo modo, consolidou-se nesse período foi aquele nomeado de Rua Nova . Foi nesta rua, especificamente na intersecção com a Travessa de São Francisco , que os vereadores decidiram construir a nova Casa da Câmara e Cadeia . Para o largo que precedia a este imponente edifício levou-se o pelourinho e mais tarde, em suas imediações, foram erguidas as igrejas das ordens terceiras de São Francisco e de Nossa Senhora do Carmo . 16 A esta altura a cidade já contava com três pontes: uma mais antiga sobre o Ribeirão Nossa Senhora do Carmo , ligando o centro do povoado às casas que ficavam na margem oposta; outra que permitia a passagem pelo córrego do Catete - chamada ponte de Areia ; e uma terceira construída para a travessia do córrego do Seminário . Ao esforço para uniformizar as construções e endireitar os caminhos 17 Nos dois mapas apresentados anteriormente, FONSECA (1998) apontou a localização dessas ruas e construções; é importante sinalizar que algumas ruas aparecem em um e outro mapa com a variação de nomes legada pelo tempo e pelos novos usos. Sobre a construção das duas igrejas, a autora insinuou que elas foram construídas pelas elites dirigentes da cidade. © 2023 Global Journals Volume XXIII Issue III Version I 41 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2023 D Mariana: The Construction of the City and its Paths

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