Global Journal of Human Social Science, E: Economics, Volume 22 Issue 1
Conforme o World Migration Report de 2020, o continente asiático se vê marcado pelo aumento significativo da migração intra-regional, superando a tendência de crescimento migratório para outros continentes. Esse processo afeta diretamente a composição populacional dos países, como no caso dos Emirados Árabes Unidos, cuja população era composta por 88% de migrantes em 2019 (WORLD MIGRATION REPORT, 2020, pp. 71). Especificamente no que se refere ao sudeste asiático, cabe ressaltar como as Filipinas, Indonésia e Mianmar consagram-se com grande número de emigrantes, enquanto Malásia e Tailândia como países receptores de imigrantes. Ademais, os países da região também ganham destaque nos corredores migratórios apontados pelo relatório, indicando o alto fluxo de movimento entre Mianmar - Tailândia, Filipinas - EUA, Indonésia - Arábia Saudita, e Indonésia - Malásia. A este contexto, ainda, soma-se a tendência apontada por Oishi (2005), da feminização dos fluxos migratórios que ocorreram no mundo e na região a partir da décadade 1980. Chheang concorre com esta tendência e apresenta três características da migração internacional no sudeste asiático, quais sejam: (i) feminização da migração econômica (labourmigration); (ii) aumento da migração irregular; (iii) exploração de trabalho (CHHEANG, pp. 183-184). A feminização da migração econômica apontada pelos autores é esmiuçada pelo argumento de Yamanaka e Piper (2005) que indica as divisões de gênero que estão exponencialmente marcando o mercado de trabalho transnacional no sudeste asiático, especialmente pelo que as autoras chamam de “caregiving crisis”: The concentration of women migrants in domestic work and entertainment (also in caring professions such as nurses) highlights the gendering of the labor market. In Asia, male labor migration has specialized in addressing the labor needs in the formal/productive sectors, while female labor migration is responding to the labor shortage in the informal/reproductive sector. The “caregiving crisis” in households reflects how families and households are acted upon and act upon the changes wrought by globalization. In developed countries, households turn to women migrants as a strategy to meet the shortage of “domestic service” as women join the labor market, while in developing countries, households turn to the migration of female members as means to shore up income. No entanto, conforme Chheang, o sudeste asiático passa por um período de transformação liderado pela migração, causada por elementos geográficos e estruturais. Dentre estes, destaca-se a diferença entre países com déficit e países com abundância de mão de obra não absorvida pela economia, que tende a indicar a direção dos fluxos de migração. Petcharamesree (2015) também apresenta tese similar, pois coloca que o processo é determinado pelas oportunidades econômicas. A esta explanação associa-se a análise inicial de Cheah (2009), que ressalta os vínculos que os processos migratórios possuem com o desenvolvimento econômico. Não apenas países que enviam migrantes são dependentes de remessas monetárias, como também suas economias são, no geral, incapazes de absorver a mão de obra existente no Estado: Many developing ASEAN States adopt labour migration not only as a solution to underemployment but also as a deliberate economic development policy that relies on the direct remittances of migrant workers. As a region, ASEAN has recognized migration as a process that can “support ASEAN economic cooperation”... It subordinates the human development of migrant workers to that of the sending country (CHEAH, pp. 210-211, 2009). Sobretudo no que se refere à migração de mulheres e o uso de seu corpo, para fins sexuais ou não, enquanto ferramenta de crescimento econômico para o Estado, Piper e Uhlin (2002) acrescentam a esta conjuntura histórica o papel que o turismo e a migração tiveram para países endividados de baixa renda. Segundo a autora, as redes de migração, apontadas por Boswell (2002) como essenciais para o nível meso do processo migratório, foram formadas na região a partir de quatro fatores: investimento, comércio, turismo e hegemonia militar econômica estadunidense na região no período da guerra fria. Essas redes formam a base para que a migração de mulheres cresça quantitativamente, apoiando o desenvolvimento de países da região através do trabalho reprodutivo. Ainda, o turismo incentivado pelos Estados enquanto forma de receita também possui um forte viés de gênero graças ao chamadoturismo sexual (YAMANAKA, PIPER, 2005). A ligação entre estes dois setores é ainda mais fortificada, pois: Throughout the post-Second World War era, the presence of American military bases and frequent eruption of regional wars in E/SE Asia gave rise to a prosperous sex industry (Enloe 1989). With the advent of the age of global tourism since the 1970s, the sex industry has expanded rapidly as an integral part of the tourist industry. Under heavy pressures to repay their foreign debts, the governments of Thailand, the Philippines and Indonesia have promoted tourism as a national policy… When this became subject to widespread public criticism and transnational feminist campaigning, sex tourism decreased in volume but clandestine global trafficking surged. Throughout the region, extensive networks of traffickers and smugglers transport women (and children) from Thailand and the Philippines to Japan and the Republic of Korea, and from Burma, Laos and Cambodia to Thailand and Malaysia. (YAMANAKA, PIPER, 2005, pp. 4). Seguindo uma linha de raciocínio semelhante, Piper e Uhlin (2002) acrescentam que tanto o turismo quanto a migração, ambos vistos a partir de um recorte de gênero, são ferramentas utilizadas para o Volume XXII Issue I Version I 12 ( ) Global Journal of Human Social Science - Year 2022 © 2022 Global Journals E Housekeeper’s Work Migration in Southeast Asia - The Philippines Case
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