Global Journal of Human Social Science, E: Economics, Volume 23 Issue 2
todas as dimensões da sociedade: econômica, política, social, educacional e cultural. Dessa forma, as crises denotam o limite de crescimento do modo de produção capitalista, à medida que apontam uma determinada barreira para a expansão do consumo da classe trabalhadora e do consumo produtivo dos capitalistas. Por outro lado, elas revelam, também, “novas” maneiras de progredir, delimitando um determinado modo de produção capitalista e inferindo, assim, uma determinada forma de conformação do Estado e das políticas sociais. A compreensão da dinâmica das crises é o que nos assegura contra o risco de não cairmos na armadilha de situá-las nos catalisadores da depressão em vez da sua causa, o que pode gerar as análises ingênuas sobre os determinantes das desigualdades sociais e da pobreza e, consequentemente a incompreensão sobre tais enfrentamento s 6 . Em termos práticos, as crises são inerentes aos ciclos longos de expansão e depressão, ainda que diversos tem sido os catalizadores como foi o caso da queda da bolsa de Nova Iorque em 1929; da elevação do aumento do preço do petróleo em 1973, da crise das hipotecas subprimes em 2008 nos Estados Unidos, derivando em 2012 na Europa ou da crise mundial sanitária em 202 0 7 . Como, pode ser observado, o mundo das finanças globalizadas tem sido marcado por uma sucessão de crises financeiras (SALVADOR, 2010a). A fragilidade sistêmica das crises, conforme Chesnais (2005), está no volume elevado de créditos sobre a produção futura que os detentores de ativos financeiros consideram pretender, assim como na busca de resultados das aplicações financeiras dos administradores de fundos de pensão. Em contexto de baixo crescimento econômico comparativamente aos capitais que buscam se valorizar nos mercados financeiros, as crises financeiras decorrentes da especulação e da instabilidade sistêmica são inevitáveis. Sendo assim, já esclarecemos de antemão que o aumento da pobreza na atualidade pode ter tido como catalizador a crise sanitária que assolou todo o planeta, mas sua essência não está descolada de todo o ciclo que se inicia com a queda da taxa geral de lucro. 6 Ainda que não caiba a esse trabalho adentrarmos na análise do enfrentamento da pobreza é importante apontarmos a pertinência de nosso escopo, tendo em vista que a compreensão da realidade é primordial para que possamos avaliar de forma crítica as políticas voltadas para o enfrentamento a pobreza. 7 O mundo foi surpreendido, no ano de 2020, pela pandemia do Corona Virus Disease (COVID-19), novo coronavírus, contudo, desde setembro de 2019, o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde estavam de posse do relatório “Um mundo em peligro” (GPMB, 2019). Como bem retrata, Virginia Fontes em entrevista realizada, em 2020, pelo sindicato nacional dos docentes das instituições de ensino superior 8 : ao contrário do que os ex-governos Bolsonaro e Trump relataram de que os países vinha crescendo, podendo ser atrapalhados pela crise sanitária, a pesquisadora chama atenção para o fato de que, antes de tudo, já estávamos ingressando novamente numa nova crise capitalista, ainda de superprodução de capitais, tendo em vista o enorme volume de títulos ou de dinheiro que precisavam se valorizar. Se assim fosse, de acordo com a fala dos ex- líderes, bastaria o fim da crise sanitária para superarmos a pobreza que tanto tem assolado o mundo. Ao passo que, na verdade, o aumento ou diminuição do número de pobreza está intimamente ligada ao estágio de depressão do ciclo capitalista, cuja intensidade tem a ver com as conformações que o Estado assume, que por seu turno vão de acordo com o nível de desenvolvimento capitalista, sua colocação no mercado mundial, assim como também da correlação de força das classes sociais. Dessa forma, independente dos catalizadores, as crises no sistema capitalista existem, e são inerentes a si. Por outro lado, como já colocado, elas demarcam, também, a insurgência de uma nova configuração do modo de produção capitalista e de uma determinada conformidade do Estado, o que implica dizer que, os embates traçados nesse contexto podem apontar para uma recomposição mais agudizada de exploração do capital e consequentemente, da desigualdade, da pobreza e da fome ou para a possibilidade de superação dessa ordem societária que privilegia o lucro à vida. Por esse motivo, seguimos nossa análise a partir da compreensão da crise do capital e as conformações do Estado na realidade brasileira. Para isso, partimos do momento que aponta o exaurimento do modo de produção capitalista que cedeu lugar para uma nova fase do capitalismo, agora com predominância financeira. O modo de produção capitalista fordista, alicerçado no suporte teórico e político Keynesiano, começa a dar sinais de exaurimento no período de 1965 a 1973 (HARVEY, 2005), mostrando-se incapaz de conter as contradições intrínsecas ao capitalismo. A expectativa do pleno emprego é assolada pela incapacidade de manutenção do crescimento, as taxas de inflação aumentam, há uma redução da produtividade, cresce o desemprego e seguindo o fluxo, ocorre a diminuição do mercado consumidor o que em cascata provoca uma queda nos investimentos. Estratégias apoiada pela intervenção do Estado como o New Deal nos Estados Unidos e o Welfare State 8 Acesso disponível em: https://www.andes.org.br/conteudos/noticia/ cORONAVIRUS-e-a-cRISE-dO-cAPITAL1 Volume XXIII Issue II Version I 3 Global Journal of Human Social Science - Year 2023 ( )E © 2023 Global Journals Unraveling Poverty: Reflections from the Financial Management of the Public Fund in Brazil
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