Global Journal of Human Social Science, E: Economics, Volume 23 Issue 2

na Europa transmutam da experiência que trouxe o aquecimento do consumo e a revitalização da economia para a ideologia que passa a ser demonizada com a responsável pela nova crise. Dessa forma, um novo ciclo surge, caracterizado pela desregulamentação monetária e financeira; pela descompartimentalização dos mercados financeiros nacionais e pela desintermediação dos bancos, implicando na abertura das operações de empréstimos para todo tipo de investidor institucional, permitindo as instituições financeiras não bancárias ter acesso ao mercado como emprestadoras (CHESNAIS, 2005). As consequências são desastrosas: o mercado mundializado aumenta a concorrência capitalista o que gera uma redução nos preços, portanto, no valor das mercadorias, que por seu turno obriga uma intensificação da extração da mais-valia, trazendo fortes impactos no mundo do trabalho. A liberalização do comércio e os investimentos diretos, propicia a deslocalização da produção, implicando na criação de subcontratações internacionais que permitem explorar o trabalho conforme os preços de mercado de compra da força de trabalho e das taxas de rendimento permitidas pela ausência de regulamentação do trabalho (sindicalização e proteção social). Consequentemente, essa nova forma de rentabilidade gera pressão sobre os salários, tanto no que diz respeito a produtividade e flexibilidade do trabalho, como nas formas de determinação dos salários. Com base, nesse contexto concordamos com Santos Filho (1993, p. 9), quando explica que “a fase atual não criou um novo tipo de capital financeiro (internacional), mas aprofundou até as últimas consequências as formas de reprodução desse capital”. O que verificamos é que a mundialização com dominância financeira trouxe transformações não só no padrão de acumulação agora rentista, mas também, nas suas formas de valorização trazendo impactos perversos no mercado de trabalho e nas relações sociais. Para entendermos melhor, vamos resgatar o que ocorre no processo de valorização com o desenvolvimento do capitalismo financeiro, chamado por Mandel (1982) de capitalismo maduro ou tardio: há subsunção do valor de uso das mercadorias ao valor de troca de forma mais proeminente, é como se houvesse uma autovalorização. O dinheiro adquire um novo valor de uso, funcionando como capital, dessa forma o produtor em vez de ser o portador do capital inicial D, pega emprestado, de um agente externo a produção, esse capital antes de começar o ciclo, tendo que devolver, ao fechar o ciclo, o capital que tomou emprestado acrescido de excedente, ou parte da mais- valia, como juros. Há, nesse caso, uma valoração que é distinta do lucro, é o juro que impulsiona o dinheiro, criando a falsa impressão que existe um processo de D - D’, escamoteando todo o processo de produção anteriormente originári o 9 . No período de recessão, ocorre tanto a paralização de grande quantidade de capital produtivo, em virtude da interrupção dos negócios e da redução de crédito entre os capitalistas, como há, também, a escassez de capital monetário de empréstimo, na forma de dinheiro que serve de pagamento. Ou seja, há uma grande quantidade de capital-mercadorias, mas que não consegue ter seu valor realizado. Não obstante, a crise de crédito e de dinheiro em espécie para funcionar como meio de pagamento, é apenas como aparece a crise de superprodução de mercadorias, provocada pela expansão do processo produtivo capitalista muito além da sua própria capacidade de consumir, isto é, de realizar o capital que valorizou na esfera produtiva. A produção torna-se consequência das transações financeiras e a exploração da força de trabalho pelo capitalista encobre-se reificada na forma de capital que se autovaloriza. Todas as relações sociais implicadas (a divisão social do trabalho, a propriedade privada, a acumulação primitiva, o processo de extração de mais-valia) são subsumidas à aparência de natural do capital. Antunes (2004) relata que a alienação é mais extensa (brutalizada) nos extratos precarizados da força de trabalho, por haver uma perda de unidade: trabalho e lazer, vida pública e vida privada. É mais desumanizado. Para os desempregados, a alienação varia da rejeição da vida social (isolamento, apatia) até a agressão direta (violência). Esses rebatimentos na dinâmica de produção e reprodução das relações sociais se mostram mais devastadores no Brasil. Para seguirmos com esse apontamento, retomemos ao processo de liberalização e da desregulamentação, que permitiu que os sistemas financeiros nacionais fossem abertos para o exterior. Vejamos, tal processo propiciou que os países industrializados financiassem seus déficits orçamentários por meio de aplicação de bônus do Tesouro e outros compromissos da dívida sobre o mercado financeiro, conhecido como “titularização” dos compromissos da dívida, no entanto, a influência do Estados Unidos nesse processo se fez decisiva 10 , e o dinheiro circulando nos mercados financeiros foram canalizados para os Estados Unidos da América (EUA), assim os países periféricos, como o Brasil, que tinham se tornado dependentes da atração de tal massa de capital-dinheiro circulante, entraram em crise, sendo obrigados a recorrerem a empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI). 9 Para maior compreensão sobre a dinâmica de valorização do capital ver Behring (2021); Dutra (2021); Nakatani (2021) 10 Tendo em vista o “choque de juros” promovidos pelo Federal Reserve (FED) em 1979. © 2023 Global Journals Volume XXIII Issue II Version I 4 Global Journal of Human Social Science - Year 2023 ( )E Unraveling Poverty: Reflections from the Financial Management of the Public Fund in Brazil

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