Global Journal of Human Social Science, G: Linguistics and Education, Volume 21 Issue 4
tomando consciência de seus próprios limites para colher as contribuições das outras disciplinas. Uma epistemologia da complementaridade, ou melhor, da convergência, deve, pois, substituir a da dissociação (GUSDORF, 1976, p. 26). Do ponto de vista de Japiassu (1976), o conhecimento departamentalizado corre o risco de não atender à representação da realidade de gerar uma ‘patologia do saber’. Ele sustenta que o conhecimento precisa partir do pressuposto da condição total do ser humano ou dos fenômenos, ideia que está intimamente relacionada à expressão ‘articulação entre disciplinas’, mencionada pelos participantes. Vale, aqui, conferir o que nos diz o documento da CAPES, que discorre sobre a “Área Interdisciplinar”: Novas formas de produção de conhecimento enriquecem e ampliam o campo das ciências, pela exigência da incorporação de uma racionalidade mais ampla, que extrapola o pensamento estritamente disciplinar e sua metodologia de compartimentação e redução de objetos. Se o pensamento disciplinar, por um lado, pode conferir avanços à Ciência e Tecnologia, por outro, os desdobramentos oriundos dos diversos campos do conhecimento são geradores de diferentes níveis de complexidade e requerem diálogos mais amplos, entre e além das disciplinas. (CAPES, 2019, p.8-9). Quanto à palavra ‘disciplina’, esta aparece três vezes no TALP, sendo considerada por um dos participantes como a mais importante. ‘Disciplina’, nesse caso, está relacionada à ideia de ‘articulação entre disciplinas’, conforme foi dito pelo participante: Ao pensar sobre interdisciplinaridade ainda se destaca para mim a questão das disciplinas em sua acepção mais tradicional, mas que, aí, se relaciona. Ainda que esta relação e funcionamento das áreas do conhecimento sejam profícuos e válidos, a interdisciplinaridade segue sendo um encontro de saberes que nascem e se estruturam à parte uns dos outros (T4). É bastante comum encontrarmos na literatura corrente a concepção do termo ‘disciplina’ como “[...] campos do saber que se caracterizam por ter um objeto de estudo e investigação específico, construído de acordo com um campo de conhecimento especializado, pelas teorias, técnicas e métodos sob os quais o objeto é investigado” (ECHEVERRÍA & CARDOSO, 2017, p. 35). De acordo com o participante acima, o conhecimento não deve ser limitado ao campo disciplinar, mas, sim, deve ultrapassá-lo de modo articulado, interacional. Essa perspectiva vai ao encontro de algumas das considerações de Japiassu (1976), visto que ele acredita que a interdisciplinaridade implica relações entre duas ou mais disciplinas ou ramos do conhecimento, ou ainda algo que seja comum a duas ou mais disciplinas. Quando os sujeitos disciplinares e as disciplinas são reunidas, surge, então, a possibilidade de haver diversidade de perspectivas e de metodologias, aplicadas à resolução das questões em estudo (SCANLON et al, 2019). Nesse caso, “A interdisciplinaridade se apresenta como um modo de organização e articulação de saberes disciplinares na prática da pesquisa, nutrindo-se delas, sem dissolvê-las” (FARIA, 2015, p. 106). b) “Abertura de caixinhas” Outra expressão, bastante utilizada pelos docentes, foi ‘abertura de caixinhas’. No dicionário, ‘abrir’ refere-se a ‘mover, descerrar, estender’ (FERREIRA, 1988, p. 5). Identificamos que o termo ‘abertura de caixinhas’, que aparece nas entrevistas, apresenta uma proximidade muito grande com o termo ‘fronteiras’, contido nos TALP. Nesse sentido, esse termo evocado representa um movimento para além dos muros da disciplina, considerada como ‘caixa’ ou, mesmo, ‘caixinha’. Acrescentamos, aqui, que abrir caixinhas significa uma ação perpassada pela disponibilidade do sujeito a se permitir o rompimento de fronteiras e a descobrir novos saberes, além daqueles aos quais está acostumado em seu ‘quadrado’, situados na sua zona de conforto, buscando, por meio da interdisciplinaridade, aumentar a capacidade de reflexão e desenvolver o espírito prático, ampliando sua práxis. Percebe-se, todavia, que essa ‘abertura de caixinhas’ não representa apenas o simples ato de integração disciplinar, mas, principalmente, o ato de permitir o diálogo e a interação constante entre essas mesmas caixinhas, favorecendo a que, em determinado momento, elas possam não mais existir, ou que, no mínimo, as fronteiras sejam flexibilizadas, permitindo conexões para a solução de um problema comum. Esse é um dos princípios básicos da interdisciplinaridade. Essa compreensão foi apresentada na fala de alguns participantes, das seguintes formas: “E as escolas de samba. Você já viu? São várias alas sobre uma mesma temática. Uma mesma pauta pensada sob várias perspectivas” (E6); “Todas as dimensões da vida são interrelacionadas. Não dá para pensar nelas de forma isolada. O debate e a reflexão são importantes para termos autonomia de escolhas, de decisões...” (E8). Eainda: Gostaria que nós nos sentíssemos livres para o debate na sala de aula. Precisamos ter uma visão mais abrangente sobre os temas que serão discutidos, afinal é para isso que existe a disciplina Estudos sobre a Contemporaneidade, para podermos olhar além das caixinhas da disciplina e sair caminhando por onde as informações estiverem. (E4) Outro aspecto importante, apresentado pelos participantes, é o de que o saber interdisciplinar permite a abertura para outros saberes além dos que são construídos dentro dos espaços universitários e de pesquisa. Resgata-se e considera-se, assim, os saberes populares, os saberes de grupos, comunidades ou qualquer informação que possa contribuir para o entendimento de um dado problema. Em outras palavras, considera-se a diversidade de olhares. Volume XXI Issue IV Version I 7 ( G ) Global Journal of Human Social Science - © 2021 Global Journals Year 2021 Conceptions on Interdisciplinarity between Teachers of the College Education
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