Global Journal of Human Social Science, G: Linguistics and Education, Volume 21 Issue 4
conhecimento e o seu objeto. Discorre Morin: Como nosso modo de conhecimento desune os objetos entre si, precisamos conceber o que os une. [...] O desenvolvimento da aptidão para contextualizar tende a produzir a emergência de um pensamento “ecologizante”, no sentido em que situa o acontecimento, informação ou conhecimento em relação de inseparabilidade com seu meio ambiente – cultural, social, econômico, político e, é claro, natural (MORIN, 2003, p. 24-25). Outro desígnio do campo da complexidade é o questionamento do determinismo e do reducionismo (SOMMERMAN, 2012), para nos aproximarmos de uma visão sistêmica dos objetos e fenômenos investigados, pautando-nos em novos modos de fazer ciência e de produzir conhecimentos. Relacionando a literatura especializada com o que aparece nas falas dos entrevistados acerca da complexidade, fica evidente que a interdisciplinaridade se relaciona diretamente com a complexidade do saber, do ser humano e da natureza dinâmica do universo. Seguem algumas falas dos participantes, que corroboram essa relação entre complexidade e interdisciplinaridade: [...] pensar nos fenômenos mais contemporâneos, mais complexos demanda uma interdisciplinaridade, porque quanto mais complexo o fenômeno, mais difícil é explicá-lo e compreendê-lo a partir de um campo disciplinar específico [...]. (E1) [...] o mundo contemporâneo colocou para nós outra ordem de complexidade, onde a interdisciplinaridade aparece como fundamental [...]. É fundamental respeitar a complexidade que as coisas têm e que o conhecimento tem [...]. Entendo a interdisciplinaridade como [...] práticas para dar conta de problemas complexos que não podem ser respondidos apenas por uma disciplina em particular. (E3) Vejo a interdisciplinaridade como a utilização de conceitos, métodos, técnicas e instrumentos de várias disciplinas científicas para compreensão ou para explicação de modelos explicativos ou para a compreensão de objetos complexos que não se deixam compreender apenas numa perspectiva disciplinar [...]. (E4) Vejo na interdisciplinaridade uma recombinação de coisas. [...] A sociedade contemporânea é complexa e com várias combinações que não conseguimos isolar os fenômenos em si [...]. Até conseguimos fazer uns recortes, mas acredito que a proposta é justamente que consigamos recombinar os saberes de forma que vejamos outros aspectos do fenômeno, de uma forma mais abrangente. Então temos essa liberdade de ir passeando por outros campos, inclusive também fazendo pontes para fora da academia [...]. Isso para mim é complexidade, é ser interdisciplinar, é ser contemporâneo. (E7) Observa-se que a compreensão sobre a interdisciplinaridade, intimamente relacionada à complexidade, requer novas posturas diante do conhecimento, como citado pelos participantes. Essas novas posturas, entretanto, não estão claramente definidas na literatura especializada, tampouco foram esclarecidas nas falas dos participantes. Dentre os participantes deste estudo, ao fazer referência à interdisciplinaridade, dois justificaram a colocação do termo ‘complexidade’ na primeira posição, em ordem de importância, dos seguintes modos: 1 - “A noção de complexidade está associada à interdisciplinaridade para anunciar, desde o início, que a interdisciplinaridade envolve variadas abordagens, compreensões, práticas e contextualizações.” (T7); 2 - “Por conta dos desafios colocados pelo mundo atual, a produção de conhecimentos exige um pensamento não-centrado, um pensamento relacional, um processo de construção do saber lançado em redes, na perspectiva dialógica” (T11). É notório que, para os participantes, a interdisciplinaridade existe e caminha em função dos fenômenos complexos, sendo que o modo como vemos o mundo interfere diretamente na forma como compreendemos os processos construtivos dos saberes, modificando profundamente nossas representações sobre eles. A crítica à ‘simplicidade’ da disciplinaridade surge em virtude dessa complexidade do mundo. De acordo com Clark & Wallace (2015), a construção do conhecimento ainda é fragmentada em sua forma de organização, classificação, produção e uso nas universidades e, consequentemente, nos demais espaços da sociedade. A natureza complexa e dinâmica dos problemas contemporâneos exige interações cada vez mais profundas dos saberes disciplinares e a produção constante de conhecimento no campo interdisciplinar (FARIA, 2015). Claude Raynaut (2014) destaca que a ação interdisciplinar surge no contexto da compreensão das questões contemporâneas, com o intuito de compreender a complexidade dos problemas atuais. A disciplinaridade não é negada nesse contexto; apenas é inequívoco que os saberes disciplinares, trazidos para o contexto da complexidade, precisam de reformulações, de multidimensões, para além do saber disciplinar e unilateralizado. Enquanto as disciplinas explicam apenas o seu objeto a partir de um ponto de vista, a interdisciplinaridade rompe com essa tradição disciplinar (FARIA, 2015). De acordo com Faria (2015, p. 109), “Os pensamentos disciplinares, multidisciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares se constituem em formas diferenciadas e, às vezes, complementares de geração de conhecimentos”. Para esse autor, a interdisciplinaridade é o desenvolvimento da capacidade de superar as disciplinas, sem aboli-las. Em outras palavras, a interdisciplinaridade não abandona os conceitos disciplinares, tampouco se faz valer deles de forma simplificada. Digamos que os conceitos disciplinares podem ser utilizados na medida em que são reinterpretados a partir de uma visão mais complexa e sistêmica daquilo que se pretende estudar. Aqui está posto outro desafio para o fazer interdisciplinar: reinterpretar conceitos disciplinares, sem perder de vista sua construção disciplinar. Volume XXI Issue IV Version I 9 ( G ) Global Journal of Human Social Science - © 2021 Global Journals Year 2021 Conceptions on Interdisciplinarity between Teachers of the College Education
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