Global Journal of Human Social Science, G: Linguistics and Education, Volume 25 Issue 3
The Mythical, Political, and Poetic Crossroads: The Ethnographic Writing of Itamar Vieira Junior in Torto Arado A Encruzilhada Mítica, Política e Poética: A Escrita Etnográfica de Itamar Vieira Junior em Torto Arado Vanessa Ramos da Silva Resumo- Este artigo propõe uma reflexão sobre a escrita de Itamar Vieira Júnior no romance Torto Arado (2019), a partir do conceito de escrita etnográfica, articulando contribuições de Lélia Gonzalez (1984), Clifford Geertz (1989), Walter Benjamin (1994), Antonio Candido (2004; 2006), Braun (2012),Nesimi (2019), dentre outros autores. A análise enfoca a construção de um "fenômeno literário diaspórico", no qual se entrecruzam mitologia, política e poesia, em uma narrativa que traduz a escuta dos corpos racializados e territorializados do sertão brasileiro. A discussão perpassa pela hipótese da construção textual como um processo subjetivo-objetivo em que o autor é um etno – tradutor e estabelece a partir da encruzilhada como categoria simbólica, epistemológica e da literatura como mediação social, o seu campo de atuação e reflexão. A encruzilhada, nesse sentido, funciona como uma categoria simbólica que materializa o entrelaçamento de múltiplas temporalidades, identidades e saberes presentes na narrativa, reforçando a posição do autor como mediador entre a experiência vivida das comunidades do sertão e a representação literária. Palavras-chave: torto arado, etno – tradução, encruzilhada amefricana, literatura diaspórica. Abstract- This article proposes a reflection on the literary writing of Itamar Vieira Júnior in the novel Torto Arado (2019), based on the concept of ethnographic writing and articulating contributions from Lélia Gonzalez (1984), Clifford Geertz (1989), Walter Benjamin (1994), Antonio Candido (2004; 2006), Braun (2012), Nesimi (2019), among other authors. The analysis focuses on the construction of a "diasporic literary phenomenon," in which mythology, politics, and poetry intersect within a narrative that translates the listening to racialized and territorialized bodies in the Brazilian hinterlands ( sertão ). The discussion is guided by the hypothesis that the textual construction represents a subjective-objective process in which the author acts as an ethno–translator. From this perspective, the crossroads is explored as a symbolic and epistemological category, and literature as a form of social mediation. The crossroads, in this sense, materializes the entanglement of multiple temporalities, identities, and knowledge systems present in the narrative, reinforcing the author's role as a mediator between the lived experience of sertão communities and their literary representation. Keywords: torto arado, ethno–translation, amefrican crossroads, diasporic literature. I. C omentários I niciais escritor e o seu texto formam uma estrutura indissociável. Aquele que aprendeu, além de oralizar (falar sobre algo ou alguém), a se empoderar da codificação e da decodificação da escrita, habilitou-se em diversos letramentos, conforme os contextos das práticas sociais em que está inserido. Aquele ou aquela que conseguiu criar uma obra material ou intelectual e a disponibilizou para apreciação pública, também autorizou que essa criação se tornasse objeto de análise. Nesse sentido, a obra Torto Arado (2019), de Itamar Vieira Junior, é escolhida para ser discutida por se tratar de uma criação literária com fins estéticos, cuja essência repousa em uma intenção comunicativa autoral. Propomos, portanto, uma leitura analítica que estabelece uma ponte entre a Teoria da Literatura e as Ciências Sociais, investigando a escrita do autor como a construção de um "fenômeno literário diaspórico", um texto que articula o real e o verossímil, tendo a etnografia como parte estruturante do seu processo criativo. De modo sintético, a etnografia pode ser compreendida como um estudo cultural intersubjetivo entre pesquisador e pesquisado(s), que busca descrever, compreender e narrar o cotidiano de indivíduos ou grupos sociais em seu ambiente natural. Trata-se de um método baseado na observação prolongada, na escuta atenta e na valorização do ponto de vista dos próprios sujeitos (os “nativos”) sobre seus modos de vida e suas práticas culturais. É, portanto, uma escrita sobre a cultura do outro. Nas palavras de Clifford Geertz, “fazer a etnografia é como tentar ler (no sentido de “construir uma leitura de”) um manuscrito O Global Journal of Human-Social Science ( G ) XXV Issue III Version I Year 2025 37 © 2025 Global Journals Author: Graduada em Ciências Sociais – Licenciatura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mestra em Sociologia pela Fundação Joaquim Nabuco – UFPE, Graduada em Letras Português e Espanhol – Licenciatura pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, Graduanda em Filosofia – Licenciatura pela Universidade Católica de Pernambuco, Docente efetiva de Língua Portuguesa na Educação Básica da Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco. e-mail: vanessaramvs@gmail.com
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NTg4NDg=