Global Journal of Human Social Science, G: Linguistics and Education, Volume 25 Issue 3

pertinência em construí-lo devido ser indissociável a obra de quem a fez e ao mesmo tempo, por estarmos buscando aprofundar sobre o que não é literário em uma obra literária algo que no próximo tópico ampliaremos a reflexão. III. L iteratura e E tnografia ( O u V ice- V ersa) em T orto A rado A obra depende estritamente do artista e das condições sociais que determinam a sua posição. – Antonio Candido - Do latim littera (letra), literatura pode ser compreendida como um conjunto de habilidades em que o ler e o escrever estão alinhados a um determinado padrão social da oralidade - escrita. Havendo diversas definições e tipologias de literatura. Em suma, pode ser compreendida como a arte de compor textos. Compor um texto antropológico, é compor um texto cientifico. Um texto não-ficcional, contudo, intersubjetivo, em que se descreve e narra sobre a cultura do outro através de um trabalho de campo prolongado e tendo como método a etnografia, do grego ethnos, (povo) e graphein, (escrever, registrar, dentre outros sinônimos), que de acordo com Nesimi (2019) ao citar Peirano (2014), esclarece que: A etnografia não se resume a um método ou detalhe metodológico que antecede a teoria, mas trata-se de um empreendimento teórico da antropologia. A etnografia no campo é a própria teoria antropológica. Na verdade, seu posicionamento é resultante de uma reflexão sobre o status científico da antropologia, pois acreditava-se que a formulação de hipóteses não poderia anteceder o início da pesquisa (Nesimi, 2019, p. 111). Assim como um escritor - literário, o etnógrafo tem um ponto de vista privilegiado. Posicionamento este que termina fazendo com que selecionem os seus personagens, no caso do primeiro e dos seus/as informantes, no caso do segundo. Em ambos os casos, o que percebemos é o poder (privilégio) da escolha e a autoridade da escrita. Contudo, são os nativos de um determinado lugar (um texto literário e um texto etnográfico) que informam sobre si próprios, suas sociabilidades ou não, suas funções sociais, seus modos vida, dentre outros aspectos (históricos, econômicos, políticos, geográficos, literários, etc.) ligados ao grupo ou grupos sociais de pertença que faz com a intersubjetividade ocorra e a partir do fazer literário e do fazer etnográfico não em seu estado bruto (anotações, esboço, diário de campo e notas de diário de campo, dentre outras formas armazenas informações), mas após refinamento das informações, o que se caracteriza em alguns procedimentos científicos como ‘coleta dos dados, tratamento dos dados, refinamento dos dados’, chega- se ao produto final: uma obra literária e/ou texto científico. Em Torto Arado (2019), Itamar Vieira Junior seleciona como informantes principais de seu texto literário, duas nativas habitantes da fazenda Caxangá em Água Negra, são elas, Bibiana, narradora - protagonista do capítulo 1 e Belonísia, narradora - protagonista do capítulo 2, e uma ‘nativa’ do Jarê 4 1) São elas narradoras - protagonistas ou protagonistas – narradoras? (Banaggia, 2015), Santa Rita Pescadeira, narradora – protagonista do capítulo 3. Dentre tantas reflexões do ponto de vista teórico entre literatura e etnografia que pode ser feita, com base na apresentação das personagens – informantes, é possível levantar os seguintes questionamentos: 2) Qual a diferença entre ser uma nativa do Jarê e uma nativa de Água Negra praticante do Jarê? 3) Quais são os tipos de histórias que podem ser contadas a partir de relacionamentos entre indivíduos provenientes de sistemas culturais diferentes? Para responder as três questões, parece viável seguir um dos conselhos de Candido (2006) e, adotar as indicações de Malinowski quanto à importância do conjunto de uma situação social, para entender qualquer dos seus aspectos particulares, pois só assim poderemos apreender a integridade do fato literário na sua manifestação entre os grupos primitivos. Mas é bom lembrar que já superamos a fase em que era preciso ou conceber a arte primitiva como jogo gratuito, ou concebê-la como atividade pragmática no sistema das funções sociais. A arte, e, portanto, a literatura, é uma transposição do real para o ilusório por meio de uma estilização formal, que propõe um tipo arbitrário de ordem para as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação à realidade natural ou social, e um elemento de manipulação técnica, indispensável à sua configuração, e implicando uma atitude de gratuidade. (Candido, 2006, p. 62). Ao mencionar o pai da Antropologia Social, o polonês Bronislaw Kasper Malinowski, Candido (2006), enfatiza o trabalho desenvolvido pelo antropólogo que via a cultura como uma totalidade, sendo ele inclusive o pioneiro no método da observação – participante, que além dos diários de campo e notas de diários de campo, passou a utilizar fotografias das situações ‘reais’ dos nativos investigados, contrapondo a chamada ‘Antropologia de gabinete’, isto é, uma 4 Gabriel Banaggia, em sua obra As forças do Jarê: religião de matriz africana da Chapada Diamantina (2015), oferece uma análise aprofundada do Jarê, uma prática religiosa afro-brasileira presente exclusivamente na região da Chapada Diamantina, Bahia. O autor destaca o Jarê como uma religião sincrética, resultante da fusão de elementos de cultos africanos, especialmente das nações Bantu e Nagô, com aspectos do catolicismo rural, da umbanda e do espiritismo kardecista. The Mythical, Political, and Poetic Crossroads: The Ethnographic Writing of Itamar Vieira Junior in Torto Arado Global Journal of Human-Social Science ( G ) XXV Issue III Version I Year 2025 41 © 2025 Global Journals Antropologia realizada a partir das informações coletadas em campo por outro antropólogo.

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