Global Journal of Human Social Science, H: Interdisciplinary, Volume 23 Issue 5
© 2023 Global Journals Volume XXIII Issue V Version I Global Journal of Human Social Science - Year 2023 ( ) H 4 Professional Training in the Amazon and for the Amazon III. A s P articularidades R egionais A mazônicas Reconhecendo que o trato das particularidades regionais é um componente indispensável ao processo formativo, damos destaque à Amazônia, que enquanto espaço rico e diverso, congrega uma pluralidade humana, animal, vegetal e mineral. Por isso, fazemos referência à sua sociobiodiversidade, de modo a remeter a esse emaranhado de elementos que a caracterizam. A Amazônia é um dos territórios mais importantes do planeta, considerada por Batista (2007), Benchimol (2009) e Loureiro (2009) como uma das regiões mais complexas do mundo. Sua formação econômica, social, política, cultural e ambiental a encobriu de particularidades, não podendo ser analisada apenas sob a ótica de sua floresta, fauna, flora e biodiversidade, mas também, a partir dos povos que habitam essa região. Para além de florestas e rios, a região é uma grande representante da diversidade e riqueza cultural de seus povos, portanto, exige um olhar particular a cada comunidade e a cada grupo populacional, uma vez que a heterogeneidade sociocultural e ambiental constitui uma das maiores particularidades da Amazônia. Ao olhar para a riqueza das florestas e rios, a Amazônia possui a maior floresta equatorial do mundo e uma rica biodiversidade que abrange nove territórios da América do Sul, sendo que 60% da floresta faz parte do território brasileiro. Os “principais rios navegáveis da região amazônica são o Solimões/Amazonas, o Negro, o Branco, o Madeira, o Purus e o Juruá” (BNDES, 1998, p. 01), sendo a navegação hidroviária o meio de acesso da maior parte dos municípios da região. Ao contextualizar a Amazônia sob a lógica do desenvolvimento e da cobiça do grande capital, destaca-se a sua inserção no cenário internacional a partir da exportação das drogas do sertão e do período econômico da borracha por meio da exploração do látex, que possibilitou uma acumulação capitalista contemporânea. Essa acumulação vem se intensificando ao longo de sua formação sócio-histórica, à medida que a Amazônia passa a ser vista como O projeto internacional para a Amazônia a coloca como uma imensa unidade de conservação a ser preservada, visando a sobrevivência do planeta, uma vez que o desmatamento e as queimadas têm efeitos sobre o clima e a biodiversidade. Já o segundo projeto internacional que se refere à integração da Amazônia transnacional trata-se de uma nova escala para pensar e agir na Amazônia, porém sabe-se que o projeto de integração nacional acarretou perversidades em termos ambientais e sociais (BECKER, 2005). Como palco da cobiça internacional, as tentativas de desenvolvimento da Amazônia se fizeram presentes com a criação de inúmeras agências, instituições, rodovias, ferrovias e grandes projetos associados aos acordos internacionais, principalmente a partir dos anos de 1960, com o desenvolvimento do Projeto Trombetas, Grande Carajás, Zona Franca de Manaus, indústrias madeireiras e projetos de construção de hidrelétricas. Estes projetos apresentaram grandes impactos econômicos, sociais, demográficos e ambientais na região, sobretudo quando se analisa sob a ótica da espoliação de populações amazônidas. Pinheiro, Vallina e Vallina (2022, p. 94-95) avaliam que A história do desenvolvimento do capitalismo na Amazônia se dá com intensa exploração econômica e revela a barbárie capitalista que, sob a violência e a devastação na região, privilegia os interesses privados, distancia-se de uma integração social e democrática, revela as contradições engendradas pelo movimento do capital na região em um contexto de acumulação capitalista contemporânea e potencializa o empobrecimento dos povos da Amazônia em meio às riquezas naturais, favorecendo a emergência de diferentes refrações da questão social que atingem tais povos, como: fome, desemprego, violência, falta de acesso a serviços de saúde e saneamento básico, desastres ambientais, expropriação de terras etc. Henriques (2000) analisa que a Amazônia brasileira reproduz duas características da desigualdade e pobreza no Brasil, sendo a primeira, que o Brasil não é um país pobre, mas, um país com muitos pobres, cuja origem da pobreza não reside na escassez de recursos. A segunda característica diz respeito à concentração de renda. Com a concentração de renda na Amazônia brasileira, os benefícios do crescimento na região ficaram restritos a determinados segmentos sociais, sinalizando as contradições de um crescimento econômico com a manutenção das desigualdades sociais. fronteira do capital natural em nível global, em que se identificam dois projetos: o primeiro é um projeto internacional para a Amazônia, e o segundo é o da integração da Amazônia, sul- americana, continental (BECKER, 2005, p. 74). no desenvolvimento capitalista na Amazônia é o Estado ditatorial brasileiro que intervém para assegurar a expansão econômica e as condições de exploração do trabalho na região. As bases das antigas formas de economia são destruídas e instituem-se novas relações sociais de produção, que passam a conviver com formas “arcaicas”. Há a desapropriação e reapropriação de terras e instrumentos de trabalho, ocorre o massacre dos povos originários (etnias indígenas) e, também, acontecem muitos conflitos envolvendo os povos tradicionais (ribeirinhos, varjeiros, quilombolas, pescadores, extrativistas), incentiva-se o fluxo migratório para cumprir as funções de mão de obra. Convivem a exploração e o “progresso”, semisservidão e grande capitalismo, violência e crescimento econômico.
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